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Correio Teatral

ENTREATO COM BIA LESSA

De dois anos para cá você lidou no teatro com Guimarães Rosa e Mário de Andrade, dois icônicos autores da literatura brasileira. Há uma possibilidade de link entre eles?

BL – De alguma forma todas as obras são possíveis de link, principalmente os clássicos, que são obras formadoras, que constituem a própria história do Homem, que fazem a gente pensar na própria ideia de Humanidade. Então, elas conversam. Agora, ao mesmo tempo, são muito diferentes. Enquanto “Grande Sertão” é uma obra que tem pouca ação e muita reflexão, o que acontece dentro da cabeça do Riobaldo, dentro da alma dele ou, podemos dizer, dentro de todos os homens, no “Macunaíma” é o oposto. Cada parágrafo tem uma infinidade de ações. Num mesmo parágrafo, uma hora você está no sul, outra hora está no norte ou em Pernambuco. Acontecem milhões de coisas.

O encontro do Macunaíma com o muiraquitã, que vai ser a semente de toda a sua vida, de toda a sua saga, acontece em dois parágrafos. É bonito. Enquanto em um a gente faz uma reflexão através da ação, no outro a gente faz através da própria reflexão. São obras completamente antagônicas no seu formato, mas se encontram as duas na ideia de uma formação de linguagem. Foi muito importante para mim e muito rico ter trabalhado com as duas, uma atrás da outra.

Seus planos para 2020?

BL – Quero acabar o filme “Travessia”, que a gente fez a partir do espetáculo “Grande Sertão: veredas”, e vou dirigir uma ópera – “Aída” – no Teatro Municipal de São Paulo agora para março. E estou me preparando para fazer uma grande exposição sobre Glauber Rocha. Esse é o meu futuro próximo. São as coisas que estão me instigando e me movendo.

 

TRIBO DO TEATRO-MEMÓRIA / GLAUCE ROCHA

Glauce Rocha foi uma das maiores atrizes do Brasil. Hoje quase ninguém fala dela, mas, se não tivesse nos deixado tão precocemente, aos 38 anos, em 12 de outubro de 1971, estaria no patamar das grandes estrelas dos nossos palcos.

Há controvérsias quanto à sua idade: nascida em Campo Grande (MS), a princípio em 16 de agosto de 1930 (data oficial), fez 28 filmes, entre eles “Rio 40 graus” e “Terra em transe”, 11 trabalhos em TV e dezenas de peças, entre elas “A lição” e “A cantora careca”, de Ionesco, “A beata Maria do Egito”, de Rachel de Queiroz, “Electra, de Sófocles”, e “Uma ponte sobre o pântano”, de Aldomar Conrado, sua última participação em cena.

Foi nessa época, em 1971, que eu, então um jovem repórter, a conheci. Admiração e amizade à primeira vista: assisti à peça e fiquei completamente arrebatado por sua interpretação – era uma atriz intensa, de grande expressão facial e corporal.

E inteligência cênica. Em julho do mesmo ano entrevistei-a para o extinto Jornal de Ipanema dentro do também extinto e histórico Teatro Opinião. Quando a matéria ficou pronta, levei para Glauce, junto com um livreto de poesias que eu havia publicado. Ela leu os poemas e disse, olhando no fundo dos meus olhos: “Sabe, eu queria que você fosse meu filho. Estou indo para São Paulo gravar mais uns capítulos de uma novela e, quando voltar, vamos marcar um almoço e seremos amigos para sempre”. 

Glauce não voltou. Durante as gravações da novela “Hospital”, ela teve um infarto fulminante e atravessou para a outra margem do rio. Em 1968, com o solo “Um uísque para o Rei Saul”, de César Vieira, recebe o Prêmio Molière de Melhor Atriz. Durante sua trajetória ganha vários outros prêmios e enfrenta muitos embates com a censura, como no filme de Nelson Pereira dos Santos (“Rio 40 graus”) e no próprio monólogo de Vieira.

Trabalha com os maiores diretores do teatro brasileiro, entre eles Antunes Filho, Antonio Abujamra, Ziembinski e João das Neves. Em janeiro de 1979 o antigo Teatro Nacional de Comédias, no Centro do Rio, passa a chamar-se Teatro Glauce Rocha. Muito mais a falar sobre ela.

Glauce Rocha, memória iluminada do teatro nacional.

 

“A GOLONDRINA”, SUCESSO EM SÃO PAULO, CHEGA AO RIO

O ataque homofóbico ocorrido no Bar Pulse (Orlando, EUA) em 2016 inspirou o dramaturgo catalão Guillem Clua a escrever A Golondrina, estreia marcada para o dia 16, no Teatro Sesc Ginástico, sob a direção de Guilherme Fontes Paiva, com Tania Bondezan e Luciano Andrey. A produção é do ator Odilon Wagner. Na temporada em São Paulo, Bondezan recebeu a indicação para o Prêmio Shell de Melhor Atriz.

 

HUMOR ANALISA NOVAS RELAÇÕES

Mas também se pode falar de liberdade, diversidade e aceitação pela ótica do humor. É o que faz a comédia O marido do Daniel, de Michael McKeever - êxito off Broadway em 2018 -, direção de Gilberto Gawronski, ao colocar em cena um casal homoafetivo e discutir, pelo viés cômico, as relações familiares contemporâneas. No elenco, Bruno Camerizo, Dedina Bernardelli, Alexandre Lino e José Pedro Peter. Teatro Petra Gold / Sala Marília Pêra. Produção de Eduardo Barata.

 

SÁTIRA: VISÃO CRÍTICA X CANTORES FAKES

Estreia hoje – no Sesc Tijuca Teatro II – Os únicos, de Lucília de Assis, que integra o elenco ao lado de Alexandre Dacosta, com a direção de Fabiano de Freitas, o Dadado, produção de Maria Siman. O espetáculo vê, com olhar satírico, o universo pré-fabricado dos cantores fakes. A equipe tem bons fluidos: Lucília está indicada para o Prêmio Shell/RJ de Melhor Dramaturgia pelo texto Não Peça e Fabiano, no Prêmio Cesgranrio de Melhor Direção por seu trabalho em 3 maneiras de tocar no assunto.

 

RAUL SEIXAS PARA O PÚBLICO INFANTIL

O icônico Raul Seixas (1945-1989) continua na ordem do dia, agora num novo segmento: a plateia mirim. Estreia amanhã no Teatro Clara Nunes o musical Raulzito Beleza – Raul Seixas para crianças, dirigido por Diego Morais e escrito por Pedro Henrique Lopes. Os grandes sucessos do maluco beleza estão lá com sua carga de humor, lirismo e reflexão.

 

AUTORA CARIOCA EM TRÊS FRENTES

Renata Mizrahy é uma dramaturga dinâmica e premiada que não para de trabalhar. Agora mesmo está com três peças em cartaz: os infantis Gabriel só quer ser ele mesmo, no Sesc Tijuca, Vira Volta, no Parque das Ruínas, e o adulto Vale Night, a partir do dia 16, no Teatro Glaucio Gill. Renatinha, a protegida de Dionysos, o deus do Teatro!

 

PERFUME DE MULHER ” EM CURTA TEMPORADA

Sucesso no cinema com Al Pacino, Perfume de mulher, em sua versão teatral dirigida por Walter Lima Jr., fez diversas temporadas pelo país e agora retorna ao Rio, no Teatro XP Investimentos. É um projeto bem sucedido do ator Silvio Guindane, protagonista do espetáculo junto com Natália Lage, Eduardo Melo e Saulo Rodrigues.

 

PERSONAGEM ENTRE A LUCIDEZ E A LOUCURA

Hoje reestreia no Espaço Cultural Municipal Sergio Porto o solo Nefelibato, de Regiana Antonini, com Luiz Machado. Direção de Fernando Philbert e supervisão artística de Amir Haddad, Nefelibato fala de um executivo que perdeu tudo: mulher, empresa, fortuna, e vaga pelas ruas da cidade. No dia 13 haverá uma sessão especial, às 15h, para 100 pessoas que estiveram em situação de rua e hoje se encontram em abrigos da prefeitura.

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