Mais uma vítima do coronavírus: a atriz Nicette Bruno, aos 87 anos

E o corovanírus levou mais um ícone da TV e do teatro. Depois de Eduardo Galvão, a talentosa Nicette Bruno, há semanas internada na Casa de Saúde São José, no Rio, não resistiu e faleceu neste domingo (20). A morte foi confirmada por sua neta, Vanessa Goulart.
Filha de artistas, Nicette Xavier Miessa nasceu em Niterói e estudou piano na infância. Com quatro anos, participou de um programa infantil de rádio, sua estreia. Entre seus primeiros papéis no teatro, ainda na fase amadora, está Julieta, protagonista da peça "Romeu e Julieta", de William Shakespeare.
Nicette considerava que o ingresso na vida profissional ocorrera na peça "A Filha de Iório" (1947), de Gabriel D'Annunzio, em montagem criada pela companhia da atriz Dulcina de Moraes (1908-1996), ícone do teatro brasileiro na década de 1940, mestra do ofício em um momento pré-modernização das artes cênicas.
Aos 16 anos, tentou criar uma companhia de teatro no Rio e procurou o então presidente Getúlio Vargas para pedir dinheiro. Frustrada com uma promessa não cumprida do governante, se mudou para São Paulo com a tarefa de administrar uma sala, o Teatro de Alumínio.
Só então começou a formar a companhia Nicette Bruno e Seus Comediantes, que, em 1953, migrou para sala vizinha com o nome Teatro Íntimo Nicette Bruno. Neste início de trajetória, a atriz entrou para a roda de profissionais traçando novos caminhos para o teatro nacional, com o diretor Antunes Filho e o ator Walmor Chagas entre eles.
A época foi marcada pelas novas propostas estéticas trazidas a São Paulo pelos diretores italianos, como Ruggero Jacobbi, com quem Nicette trabalhou em "Senhorita Minha Mãe", de Louis Verneuil, e em outras peças.
O ator Paulo Goulart iniciou sua carreira também no Teatro Íntimo de Nicette, nesta mesma produção de 1952. Em 1954, os dois se casaram. A vida matrimonial durou até a morte de Goulart em 2014. Como ele, Nicette teve três filhos, Beth, Paulo Júnior e Bárbara, que também se tornaram artistas. O casal ficou conhecido também por ter se dedicado ao Kardecismo.
Na televisão, Nicette estreou na TV Tupi nos anos 1960, fazendo participações em recitais e teleteatros. Atuou em "A Corda", uma adaptação do filme "Festim Diabólico" (1948), de Alfred Hitchcock, dirigido por Jacobbi, com Cassiano Gabus Mendes no elenco.
Na TV Excelsior, interpretou a mocinha Clara na novela "Sangue do Meu Sangue" (1969). Ela era a mulher do protagonista do folhetim, Carlos, que perde a memória em uma acidente e deixa de reconhecê-la.
Sem nunca deixar de lado o teatro, Nicette passou ao primeiro time de atores da Globo, emissora que a contratou em 1980 para fazer o papel de uma freira em "Obrigado Doutor", ao lado de Francisco Cuoco e passou a ser preferida em papéis bem comportados, mães zelosas, mulheres dedicadas.
Com esse perfil, fez parte do elenco de novelas como "Selva de Pedra" (1986) e "Rainha da Sucata" (1990), além de ter atuado em minisséries, como "Meu Destino É Pecar" (1984), adaptação para obra de Nelson Rodrigues. Houve ao menos uma vilã, embora pouco expressiva, em seu repertório: Úrsula, da novela das seis "O Amor Está no Ar" (1997), que rivalizava com a nora, interpretada pela atriz Betty Lago.
Entre 2001 a 2004, atuou em nova versão do programa infantil "Sítio do Picapau Amarelo", no papel de Dona Benta.
Entre os espetáculos que Nicette estrelou paralelamente à carreira na TV, está "Somos Irmãs", sucesso absoluto de público sobre a trajetória das irmãs Linda e Dircinha Batistas, ícones da música brasileira nos anos 1930 aos 1950. Dirigida por Cininha de Paula e Ney Matogrosso, a peça rendeu um prêmio Shell.
Nos últimos quinze anos, ela continuava atuante no teatro, no cinema e na televisão. Seu último papel na telinha foi Madre Joana, no remake da novela "Éramos Seis" (2020). No ano passado, fez uma judia possessiva em "Órfãos da Terra".