Investimento estrangeiro no Brasil cresce e soma US$ 4,7 bi em janeiro, diz BC

Por: Nathalia Garcia

Os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil somaram US$ 4,7 bilhões (R$ 23,7 bilhões) em janeiro. Os dados foram divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (23).

O montante ficou acima da previsão do BC para o mês, que era de US$ 3,2 bilhões (R$ 16,1 bilhões).

"A surpresa do IDP em relação à projeção se refere basicamente aos lucros reinvestidos, que aumentaram 75%. E esses lucros reinvestidos têm dois componentes: o próprio nível de lucros observado e as remessas que foram feitas em dezembro e que agora não ocorreram, como se poderia imaginar", afirmou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

Em 12 meses, o volume de investimentos diretos de estrangeiros no país totalizou US$ 47,7 bilhões (R$ 238,8 bilhões), equivalente a 2,94% do PIB (Produto Interno Bruto).

O resultado de janeiro é 34,3% superior em relação ao mesmo mês do ano passado, quando houve US$ 3,5 bilhões (R$ 17,7 bilhões) em investimentos desse tipo. O saldo líquido foi o maior registrado para janeiro desde 2018, quando chegou a US$ 8,3 bilhões (R$ 41,52 bilhões).

O fluxo voltou a ser positivo depois de desinvestimentos em dezembro do ano passado, quando os investimentos diretos no país tinham registrado saldo negativo de US$ 3,935 bilhões (R$ 19,9 bilhões). Isso significa que houve mais saída do que entrada de recursos. Na ocasião, o BC atribuiu o resultado negativo a um forte aumento das remessas de lucros para o exterior.

"A gente tem uma sazonalidade em dezembro, as matrizes do exterior precisam fechar seus balanços, as subsidiárias do mundo inteiro mandam uma quantidade maior de lucros e dividendos. Com essa sazonalidade, tivemos uma saída muito grande de lucros remetidos no mês passado. Com isso, os lucros reinvestidos foram negativos, o que contribuiu para reduzir o IDP de dezembro", detalhou Rocha.

Os investimentos diretos são realizados por empresas que preferem estabelecer um relacionamento de médio e longo prazo com um país, assim, são menos voláteis que os investimentos financeiros, como compra de ações ou de títulos públicos.

No mês de janeiro, US$ 4,4 bilhões (R$ 22,2 bilhões) foram aportados no Brasil por meio de participação no capital de empresas, quando a matriz estrangeira injeta recursos em troca de uma fatia do negócio local. Nesse caso, a remuneração para a companhia investidora se dá a partir da distribuição de lucros.

Já os empréstimos intercompanhia registraram entrada líquida de US$ 307 milhões (R$ 1,5 bilhão). Na modalidade, quando a matriz concede crédito a sua subsidiária brasileira, o retorno da empresa estrangeira é feito com pagamento de parcelas fixas em um prazo determinado, com juros.

Para fevereiro, a estimativa da autoridade monetária é de entrada de US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões) de investimentos diretos de estrangeiros no país. Esse montante, se confirmado, representará o maior volume para o mês de fevereiro desde o início da série histórica, em 1995.

"Em dezembro, o lucro remetido ficou muito acima da média, em janeiro, muito abaixo. O que se espera para fevereiro é ter lucros reinvestidos num parâmetro normal, de acordo com o padrão. A gente vê, nessa primeira parte do mês de fevereiro, algumas operações de valor individual mais elevado sendo liquidadas, o que não tinha ocorrido em períodos mais recentes", explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC.

Nos saldos parciais até o dia 18 de fevereiro, o IDP soma US$ 8,851 bilhões (R$ 44,42 bilhões).

A autoridade monetária também divulgou, nesta quarta (23), que o Brasil registrou déficit nas transações correntes do balanço de pagamentos de US$ 8,1 bilhões (R$ 40,6 bilhões) em janeiro, ante saldo negativo de US$ 8,3 bilhões (R$ 41,59 bilhões) no mesmo mês do ano passado. A autarquia estimava déficit de US$ 8,4 bilhões (R$ 42,09 bilhões) para o período.

De janeiro frente ao mesmo mês de 2021, houve redução de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,53 bilhões) no déficit da balança comercial, parcialmente compensado pelas elevações nos déficits em serviços, US$ 507 (R$ 2,5 bilhões) milhões, e em renda primária, US$ 392 milhões (R$ 1,97 bilhão). No acumulado de 12 meses, o saldo negativo foi de US$ 27,7 bilhões (1,71% do PIB).

O saldo negativo na conta de serviços em janeiro deste ano deve-se, principalmente, ao setor de transportes e de viagens internacionais. Segundo dados do BC, houve déficit de US$ 269 milhões (R$ 1,35 bilhão) na conta de viagens em janeiro de 2022, contra US$ 39 milhões (R$ 196 milhões) um ano antes.

No primeiro mês de 2022, os brasileiros gastaram em viagens internacionais US$ 690 milhões (R$ 3,46 bilhões), contra US$ 308 milhões (R$ 1,54 bilhão) em janeiro do ano passado. Isso significa que os gastos aumentaram 124% no comparativo.

Já os viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil despenderam US$ 421 milhões (R$ 2,1 bilhões) em janeiro, contra US$ 269 milhões (R$ 1,35 bilhão) no mesmo mês de 2021, o que representa um aumento de 57%.

Rocha, do BC, pondera que os números crescentes em 2022 refletem o impacto da pandemia no setor em janeiro do ano passado, em meio ao avanço da propagação de Covid-19, lembrando as restrições de deslocamento.

O valor de receitas com viagens não atingia o patamar atual desde fevereiro de 2020, mas segue longe dos números registrados no período pré-pandemia. Na avaliação da autarquia, o cenário sugere uma recuperação gradual do setor. "Ainda parece haver bastante espaço para recuperação dos fluxos tanto de despesas quanto receitas de viagens", afirmou.

Para o mês de fevereiro, a estimativa do BC para o resultado em transações correntes é de déficit de US$ 2,6 bilhões (R$ 13,08 bilhões).

A autoridade monetária comunicou ainda que a taxa de rolagem de empréstimos de médio e longo prazos captados no exterior foi de 99% em janeiro, resultado abaixo do verificado em janeiro do ano passado, quando a taxa havia ficado em 103%.