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Incerteza sobre políticas fiscais traz risco de alta para inflação, alerta BC

Por: Nathalia Garcia

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central alertou que incertezas sobre políticas fiscais podem trazer risco de alta para inflação, conforme ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (21).

O recado ocorreu em meio às medidas do governo para baratear os preços dos combustíveis via redução de impostos.

"O comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação", escreveu.

Na ata, o colegiado do BC reforçou a avaliação de que as medidas tributárias em tramitação no Congresso "reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária."

Ressaltou também que o impacto das medidas tributárias sobre preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações não está incorporado em suas projeções do cenário de referência.

Na última quarta (15), o Copom elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano. A taxa básica de juros atingiu, assim, o patamar mais alto em quase cinco anos e meio. Em janeiro de 2017, estava em 13,75% ao ano, durante o governo de Michel Temer (MDB).

Já são 11 altas consecutivas desde o início do ciclo de aperto monetário, em março de 2021, quando a taxa de juros partiu de seu piso histórico, em 2% ao ano.

O atual choque de juros já é o mais longo da série histórica e o mais forte desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999. Na época, a Selic saltou 20 pontos percentuais, de 25% para 45% ao ano.

Na ata, o Copom repetiu a sinalização de que antevê "um novo ajuste, de igual ou menor magnitude" na próxima reunião, em agosto - o que significa um aumento de 0,5 ou de 0,25 ponto percentual. E o documento trouxe mais detalhes sobre o plano de voo do BC, indicando a necessidade de manter a taxa básica de juros em nível elevado por mais tempo e a decisão de ainda não encerrar o ciclo de aperto monetário.

O comitê admitiu que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2023, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Agora, se empenha para trazer a expectativa de inflação do próximo ano ao redor de seu objetivo.

No cenário de referência do Copom, a projeção do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para o próximo ano é de 4%. O mercado financeiro, por sua vez, estima 4,7% para inflação de 2023, de acordo com a pesquisa Focus.

"O comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência", disse a autarquia no documento.

Segundo o BC, a estratégia de convergência para o redor da meta exige "uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante."

O comitê ponderou na discussão que o ciclo de aperto foi bastante "intenso e tempestivo" e que, dada a defasagem da política monetária, ainda não se observa os efeitos plenos do choque de juros sobre a economia. No entanto, também considerou a deterioração no cenário inflacionário tanto de curto prazo quanto em projeções mais longas.

Neste contexto, optou por indicar uma nova alta da Selic no próximo encontro. O Copom volta a se reunir nos dias 2 e 3 de agosto para recalibrar a taxa de juros.

"Dada a persistência dos choques recentes, o comitê avaliou que somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante", justificou.

"Essa estratégia foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos, ao mesmo tempo que reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário", acrescentou.

O Copom também afirmou que a inflação ao consumidor continua elevada, com alta disseminada e se mostrando mais persistente que o antecipado. Na análise, o colegiado do BC pontuou que a inflação de serviços e de bens industriais se mantém elevada, e os recentes choques continuam levando a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis.

"Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária seguem com inflação elevada e as diversas medidas de inflação subjacente aceleraram, mantendo-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação", afirmou.

Conforme apresentado no comunicado da semana passada, o BC vê o IPCA em 8,8% no fim deste ano. A meta de inflação para 2022, já descartada pela autoridade monetária, é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

No dia 9 de maio, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o IPCA desacelerou para 0,47% em maio. Ainda que o resultado mensal tenha ficado abaixo das expectativas do mercado, 8 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram avanço de preços. No acumulado de 12 meses, a inflação atingiu 11,73%.

Quanto à atividade econômica, o BC reconheceu que os indicadores divulgados desde a reunião anterior do Copom, em maio, mostraram um crescimento acima do esperado, mas avaliou que os dados refletem sobretudo o processo de normalização da economia após a pandemia de Covid-19.

"O Comitê avalia que a atividade deve desacelerar nos próximos trimestres quando os impactos defasados da política monetária se fizerem mais presentes", disse.

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