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69% preveem que vão perder renda na crise, diz Datafolha

Por Ricardo Balthazar/ Folhapress

O pessimismo dos brasileiros diante da crise causada pelo coronavírus aumentou, e com ele cresceu o número de pessoas que têm a expectativa de que sua renda diminuirá com a paralisia da atividade econômica, de acordo com nova pesquisa feita pelo Datafolha na semana passada.

Segundo o instituto, 69% dos brasileiros preveem que seus rendimentos diminuirão nos próximos meses, e somente 30% acham que isso não acontecerá.

Levantamento feito na última semana de março mostrou que 57% dos brasileiros temiam a perda de renda e 43% achavam que não corriam esse risco.

A preocupação é maior entre os mais pobres, mas parece ter alcançado rapidamente grupos que se sentiam mais protegidos no início da crise, aumentando de forma significativa entre os mais ricos, à medida que as consequências econômicas da epidemia começam a se tornar evidentes.

Entre os mais pobres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.090), os que têm expectativa de redução da renda eram 61% e agora são 73%. Entre os mais ricos, com renda superior a dez salários mínimos (R$ 10.450), os que preveem ganhos menores eram 49% e agora são 67%.

O Datafolha entrevistou 1.511 pessoas por telefone celular entre quarta (1º) e sexta-feira (3). As entrevistas foram realizadas a distância e não presencialmente, para evitar o contato pessoal com os entrevistados. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

De cada dez entrevistados, quatro disseram que teriam o suficiente para se sustentar por no máximo um mês se perdessem agora seus rendimentos. Segundo o Datafolha, 6% disseram que já não estão conseguindo se sustentar e 11% afirmaram que teriam dinheiro suficiente para menos de 15 dias.

O Congresso aprovou na semana passada a criação de um auxílio emergencial de R$ 600 mensais, destinado a trabalhadores de baixa renda no setor informal da economia. O governo promete efetuar os primeiros pagamentos até esta quinta-feira (9). A lei prevê que o benefício será pago por três meses (leia à pág. A16).

Medida provisória publicada na quarta-feira passada criou um programa para compensar parcialmente perdas dos trabalhadores do setor formal, que terão direito a pagamentos do governo se tiverem a jornada e os salários reduzidos na crise, ou o contrato de trabalho suspenso temporariamente.

Os resultados da pesquisa do Datafolha sugerem que o anúncio das medidas não foi capaz de conter a insegurança das pessoas diante do avanço da Covid-19.

Segundo o instituto, 56% acham que a epidemia prejudicará a economia por muito tempo. No fim de março, 50% pensavam assim.

O pessimismo aumentou particularmente entre os mais ricos. Na última semana de março, 55% dos entrevistados com renda familiar superior a dez salários mínimos previam uma crise prolongada. Na semana passada, o bloco pessimista aumentou para 71% nesse estrato da distribuição de renda.

Também aumentou nos últimos dias o número de brasileiros que preveem perdas financeiras pessoais por muito tempo. Eram 28% os que pensavam assim na última semana de março. Agora, eles são 37%. A preocupação aumentou com a mesma intensidade entre os mais pobres e os mais ricos.

Na maioria dos estados, medidas tomadas pelas autoridades para conter o avanço do coronavírus levaram ao fechamento de escolas e estabelecimentos comerciais e impuseram o isolamento a grande parte da população, deixando mais claros para as pessoas os efeitos da paralisia da atividade econômica.

Na última semana de março, quando a implementação das medidas mais drásticas estava começando, 46% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que poderiam continuar trabalhando em casa durante a quarentena. Na semana passada, somente 33% previam que conseguiriam continuar trabalhando.

De acordo com o Datafolha, a queda foi maior entre os mais pobres, com renda de até dois salários mínimos. No início do período de isolamento, 40% deles diziam que conseguiriam trabalhar. Na semana passada, somente 23% dos entrevistados no estrato de renda inferior tinham a mesma expectativa.

Apesar do aumento do pessimismo, a preocupação com os efeitos econômicos das ações de combate ao coronavírus não reduziu o apoio da população às medidas.

Segundo o Datafolha, 76% concordam com a ideia de que o mais importante agora é ficar em casa para evitar que o vírus se espalhe.

O apoio à estratégia defendida pelo Ministério da Saúde e criticada pelo presidente Jair Bolsonaro é semelhante entre ricos e pobres. Mesmo entre os eleitores que votaram em Bolsonaro e dizem não se arrepender, 62% concordam com a ideia de que o combate ao vírus deve ser a prioridade agora.

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