Vale vê gastos adicionais de R$ 2,7 bilhões com coronavírus

Por Nicole Pamplona/ Folhapress

A Vale calcula em US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) os efeitos da pandemia do novo coronavírus em seus custos durante o ano de 2020. As despesas compreendem paralisação de operações, gastos com ajuda humanitária e maiores benefícios a empregados, entre outros.

Além disso, pode haver efeitos no processo de retomada de operações paralisadas após o desastre de Brumadinho (MG) e atrasos em manutenções de equipamentos, que podem afetar sobre a produção da companhia.

"A Vale está enfrentando esse cenário sem precedentes com responsabilidade, disciplina e senso de urgência", disse o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo, citando que há hoje 20 mil empregados trabalhando remotamente. "Claramente, estamos em um cenário de guerra."

No balanço do primeiro trimestre, em que a Vale registrou lucro de R$ 984 milhões, os efeitos da pandemia foram considerados "limitados". Nesta quarta (29), em teleconferência com investidores, a direção da empresa estimou gastos adicionais de US$ 500 milhões ao longo do ano.

A mineradora explicou que paralisações de projetos devem custar em torno de US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) por mês. Já a ajuda humanitária, com a compra de equipamentos de proteção e testes para doação a autoridades, chega a US$ 100 milhões (R$ 540 milhões).

Além disso, a empresa aumentou o valor do auxílio alimentação aos empregados e implantou um programa de antecipação de pagamentos a fornecedores. Nesse último caso, porém, os custos serão compensados pela redução no valor dos investimentos.

A Vale interrompeu as operações em três unidades -no Canadá, em Moçambique e na Malásia- devido à pandemia. Bartolomeo disse que Moatize, mina de carvão em Moçambique, foi o mais impactado, porque teve que suspender parada para manutenção e perdeu vendas após o início do isolamento na Índia, o principal cliente.

No Brasil, dificuldades para realizar obras e inspeções devem provocar atrasos em projetos, disse o diretor de Minerais Ferrosos e Carvão da empresa, Marcelo Spinelli. Por isso, a companhia reduziu sua meta de produção no ano de 340 a 355 milhões de toneladas para 310 a 330 milhões de toneladas.

O problema ocorreu, por exemplo, na mina de Brutucu, a maior da companhia em Minas Gerais. Segundo Spinelli, a empresa esperava que trabalhos de inspeção para a retomada das operações fosse concluído no primeiro trimestre, o que não ocorreu. A expectativa é que seja concluído no mês que vem.

Outro motivo de incerteza é o ritmo de contaminação de seus empregados. "Toda vez que há suspeita, a gente rastreia as pessoas que tiveram contato e tem as quarentenas preventivas", disse Spinelli. "Isso é o ovo normal e o impacto pode ser gradual. Eventualmente a gente pode ter falta [de pessoal] em uma operação."

Por outro lado, a companhia informou que vai retomar na semana que vem as atividades da mina de Timbopeba, em Mariana (MG), suspensas desde março de 2019. A unidade vai operar com processamento de minério a seco, tecnologia mais segura. A produção mensal será de 330 mil toneladas de minério de ferro.

Bartolomeo disse que a Vale "está em posição sólida" para enfrentar a pandemia, lembrando que o minério de ferro foi uma das commodities menos afetadas pelo isolamento global. "Nosso principal mercado, a China, já está retomando", afirmou.

A companhia acionou linhas de crédito de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões, pelo câmbio atual) para reforçar seu caixa durante a crise. Segundo o executivo, o dinheiro serve como um seguro contra eventual segunda onda de contaminações na China ou paralisação de operações importantes no Brasil.

O executivo disse que o empréstimo será pago antes que a empresa volte a falar em dividendos a seus acionistas. "Uma vez devolvidos os recursos, sabendo que a reparação [dos danos de Brumadinho] está sendo vem conduzida, temos situação econômica para fazer frente aos custos da reparação e para pagar dividendos."