Piora fiscal afeta mais inflação que agravamento da pandemia, diz estudo do BC

Larissa Garcia (Folhapress)

Um estudo do BC (Banco Central), divulgado dentro do relatório trimestral de inflação nesta quinta-feira (25), mostrou que a deterioração do quadro fiscal do país tem mais peso na inflação, puxando para cima, que o agravamento da pandemia de Covid-19, que teria efeito para baixo.

No documento, a autoridade monetária traçou três cenários alternativos para a inflação deste ano e de 2022, um com piora significativa nas contas públicas e na trajetória da dívida do governo e outro com agravamento da pandemia de Covid-19. No terceiro, os dois choques foram combinados. "Em relação ao risco fiscal, usamos como base o que ocorreu entre 2014 e 2015, com aumento da dívida e do risco. Colocamos aquele experimento no mundo de hoje", disse o diretor de política econômica do BC, Fabio Kanczuk.

"No caso da pandemia, adicionamos um agravamento ainda pior do que o que temos hoje com efeito na atividade em cima de um PIB [Produto Interno Bruto] já abaixo das expectativas, de maneira permanente", explicou o diretor.

De acordo com o exercício, os eventos começariam a ocorrer a partir do 4º trimestre deste ano. "O aumento da inflação se dá pelo repasse cambial, tanto para preços livres como administrados, pelo aumento da taxa de juros real neutra e pelos efeitos nas expectativas de inflação. No sentido contrário, atua o efeito da atividade econômica de uma maior incerteza", justificou o estudo.

O risco fiscal elevaria a inflação de 2021 em 0,7 ponto percentual e de 2022, em 2,4. Dessa forma, o indicador fecharia em 5,7% e 5,9%, respectivamente. Já o agravamento da crise sanitária puxaria os preços em 0,5 ponto para baixo neste ano e 0,3 ponto em 2022. Nesse caso, a inflação ficaria em 4,5% e 3,2% nos mesmos períodos. "A incerteza sobre a velocidade em que a vacinação se dará, assim como sobre a própria dinâmica de contágio do vírus, são questões relevantes dentro dos prognósticos da atividade econômica e da inflação", ponderou o estudo.

Na terceira simulação, o BC adicionou 15% do risco fiscal e 50% da intensidade da piora da pandemia. No contexto, os efeitos seriam de redução da inflação em 0,1 ponto em 2021 e aumento de 0,2 ponto em 2022 (4,9% e 3,7%). "Os pesos foram escolhidos aleatoriamente, é mais um exercício para mostrar como as simulações são feitas", esclareceu Kanczuk.

"Na condução da política monetária, o Copom [Comitê de Política Monetária] tem enfatizado a importância de o Brasil perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia. Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de aumentar a incerteza econômica, os prêmios de risco e a taxa de juros estrutural da economia e depreciar a taxa de câmbio", disse o estudo.