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Efeito do fim do auxílio emergencial na economia foi menor que o esperado, diz presidente do BC

Larissa Garcia (Folhapress)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o efeito do fim do auxílio emergencial na economia foi menor que o esperado e que o nível de atividade surpreendeu para cima no quarto trimestre do ano passado e nos dois primeiros meses de 2021. O titular do BC participou de evento virtual do banco Daycoval nesta terça-feira (30).

A expectativa era que, com o fim do benefício pago pelo governo aos mais pobres em razão da pandemia de Covid-19, o consumo diminuísse e a economia fosse mais impactada. "Tivemos diversas surpresas positivas [na atividade econômica]. O PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre veio acima do esperado e o IBC-Br (índice de atividade do BC) se recuperou quase que integralmente", disse Campos Neto.

O presidente do BC justificou que esperava desempenho pior da economia com o efeito do fim do benefício, pago pelo governo até dezembro. "Esperávamos retração maior com efeito do fim do auxílio em janeiro e fevereiro. Curiosamente janeiro veio forte [IBC-Br] e os dados que temos até agora de fevereiro também. Isso indica que temos um crescimento mais resiliente mesmo com a retirada parcial do auxílio", avaliou.

"Nesse cenário, o impacto do fim do auxílio foi menor que o esperado", completou o presidente do BC. Campos Neto destacou que os indicadores ainda não mostraram os efeitos da piora na pandemia e dos novos lockdowns, mas ressaltou que o cronograma de vacinação deve avançar no segundo semestre.

"Temos uma projeção para o primeiro semestre um pouco pior que a do mercado, por uma uma incerteza grande em março, abril e maio", afirmou. Ele disse acreditar que o segundo semestre será melhor.

"Entendemos que com a reabertura da economia e com o cronograma de vacinação, o segundo semestre será mais forte", disse.

Sobre inflação, Campos Neto reafirmou ser temporária e disse que recentemente o indicador foi afetado pelo câmbio e pela alta nos preços das commodities. Ele explicou que normalmente o aumento no preço das commodities valoriza moeda de países produtores, como o Brasil, o que não ocorreu agora.

"É uma das primeiras vezes que temos commodities subindo e países produtores com moeda não apreciando. O caso do Brasil é mais extremo, porque depreciou. Isso significa que o tem um peso fiscal contrabalanceia o peso de ser exportador. Se você tem commodities subindo e a sua moeda não aprecia, você gera mais inflação em moeda local", explicou.

O presidente do BC reconheceu, contudo, que a escalada dos preços está mais persistente e intensa. Além disso, segundo ele, começou a se propagar. "[A Selic a] 2% ao ano era apropriada para um cenário que não ocorreu [de retração maior na economia e inflação baixa].

Entendemos que fazer movimento mais forte [alta de 0,75 ponto percentual e sinalização de nova elevação em maio] e mais próximo aumentava a eficiência e fazia com que a alta total pudesse ser maior", afirmou.

Para tentar conter a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 2,75% ao ano, em 17 de março. A alta veio acima das expectativas do mercado. Alguns economistas criticaram a decisão porque o Copom não teria levado em consideração o aumento no número de casos e mortes por Covid-19 e os efeitos disso na economia.

A elevação dos juros, apesar de ter o objetivo de controlar a inflação, pode ter efeitos negativos na atividade.

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