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Adiar o Carnaval é ato de responsabilidade

Adiar o Carnaval é ato de responsabilidade

Por Cláudio Magnavita*

Cancelar o desfile da Marquês da Sapucaí tem que ser um ato de coragem para um gestor público. O primeiro confronto é com a rede de televisão que detém os direitos exclusivos de transmissão. Qual o governante que quer desafiar a Globo? Só o ex-prefeito Marcelo Crivella tinha esta briga declarada na sua agenda. A segunda área minada é o prejuízo que trará para as escolas. O correto não é cancelar, mas transferir a data como foi proposto no primeiro ano da pandemia. Neste caso, todos vão aplaudir.

Cancelar os blocos de rua foi um acerto e a decisão do prefeito Eduardo Paes, e tardiamente, do governador Cláudio Castro agradou a sociedade, que, assustada, já foge dos restaurantes, das multidões e não há quem não esbarre com pessoas positivadas nos últimos dias.

No caso dos blocos, os argumentos usados são, por ironia do destino, os mesmos para o carnaval da Sapucaí. Lembram como é chamado o ponto de entrada das escolas na Avenida? Concentração... O nosso pensamento elitista, herança de um país de base escravagista, se preocupa com os camarotes e as galerias e se esquecem de cuidar do povo que desfila. As escolas são multidões que passam pelo sambódromo, sem direito a entrar nas arquibancadas. Não há controle para esta multidão que se concentra na rua.

Ninguém precisa lembrar ao prefeito Eduardo Paes os riscos da Covid, que ceifou na sua família uma das pessoas mais queridas da sua geração: Valmar Paes, o pai do nosso alcaide. Uma morte precoce, que todo o Rio lamentou.

O controle do sambódromo é viável, agora a pergunta: teremos como controlar os milhares de integrantes das escolas? Será que a vida deles é menos valiosa daquelas que assistem após apresentar a carteira de vacinação? A prefeitura vai patrocinar as escolas e manter o subsídio.

Que seja adiado o desfile, preferencialmente para o segundo semestre. Temos ainda muito luto a prantear e muitos doentes para cuidar. O Réveillon cobrou a sua conta e a explosão dos casos não ocorreu por osmose. Perdemos o medo e o vírus avançou. A Globo vai entender se o desfile for adiado e não crucificará ninguém.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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