Ômicron e a conta das festas de fim de ano

Ômicron e a conta das festas de fim de ano

Por Cláudio Magnavita*

A confiança da passagem do ano novo evaporou. O Natal e o Réveillon foram datas em que todos não tiveram o medo de ser feliz e de se confraternizar. Copacabana esteve lotada e teve fogos. Salões lotados e o mundo, especialmente o Rio, demonstravam que o coronavírus não mais assustava.

O resultado da quebra de protocolos e de cuidados foi imediata: explosão de infectados. Todos estavam vacinados, portando comprovantes da segunda ou terceira dose. Insuficiente para deter a reinfecção.

A vacina reduziu a taxa de óbitos, amenizou o efeito da nova variante, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre os efeitos colaterais da Ômicron. Enfrentamos uma doença ainda desconhecida e com ferramentas ainda não testadas ao extremo.

Os gestores públicos precisam agir, mesmo em ano eleitoral, com mão dura. Se os leitos de UTIs não estão lotados, a porta de entrada do serviço público está colapsada. Explodiu, nas redes públicas e privadas, a procura por consultas e exames. A espera, em São Paulo e no Rio, nos hospitais mais sofisticados, chegava a sete horas. Teve unidade de emergência particular que chegou a atender em um só dia mais de 700 pessoas. Recorde absoluto. Nem no ponto mais alto da pandemia isso teria ocorrido. Outro ponto de aglomeração são os locais de testagem. Filas intermináveis. Você pode chegar sem o vírus e sair contaminado.

O efeito tem sido nefasto para as empresas. O primeiro sinal visível foi o cancelamento de voos das companhias aéreas por falta de pessoal. O mesmo tem ocorrido com lojas, hotéis, restaurantes e até jornais. Em duas semanas, o mundo voltou a ficar de cabeça para baixo.

Chega a ser ridículo que exista uma discussão aberta sobre a realização ou não dos desfiles de carnaval. A explosão da contaminação é global. A OMS fez o alerta: “o rápido aumento dos casos levará a um aumento das hospitalizações, que pode representar uma grande demanda para os sistemas de saúde e levar a uma morbidade significativa, particularmente em populações vulneráveis”.

Todo o esforço de 2020 e 2021 foi para evitar a sobrecarga do sistema de saúde e ele está ocorrendo agora na sua parte mais vulnerável, a entrada, que, além da Covid, atende também outras doenças.

A Bahia já cancelou o Carnaval e o exemplo será seguido por outros destinos. O que falta para os governantes tomarem uma decisão? O que ocorreu no pós Réveillon de Copa, quando todos sabiam que a Ômicron já estava por aí, foi um ato coletivo de histeria e negacionismo. Prevaleceu a vontade de ser feliz e comemorar. Tente ir a um posto de saúde ou à emergência de um hospital, mesmo privado, e verá que a conta das festas de fim de ano chegou. Apesar deste colapso, ainda tem gestor público tentando salvar um carnaval.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã