Quando o radicalismo político perde a humanidade

Por Cláudio Magnavita*

Quando o radicalismo político perde a humanidade

Um cadáver e muitas comemorações. É inacreditável que a polarização política nos leve a comemorar a perda de uma vida. O falecimento de Olavo de Carvalho foi tão polêmico quanto a sua existência. O radicalismo político não pode suplantar os traços de humanidade que nos mantém civilizados.

Atos como “já vai tarde”... demonstram que o ativismo chegou a um campo no qual o respeito à vida foi esquecido. Algo parecido com um “Morra Bolsonaro”, que muitas vezes foi ouvido por radicais que não aceitam um presidente eleito pela maioria. Se Franco fuzilou Lorca, Castro fuzilou centenas que discordam das suas ideias. Todos os dois estão errados. Aliás, o próprio Olavo de Carvalho estava errado em não aceitar o contraditório.

A civilidade ocorre nos embates, na troca de ideias e no respeito aos outros de quererem ser ridículos, como os adeptos ao terraplanismo.

A morte de Olavo de Carvalho, ocorreu gerando a polêmica que ele tanto incentivava, como astrólogo, filósofo, pensador ou boca suja.

As suas ideias embasaram uma fase do Bolsonarismo que precisava de um ideólogo. A construção de uma lógica que atacava a esquerda e a abdução do pensamento, da cultura e da educação. Morto, ganhou do Presidente um dia de luto oficial e muitos, por rebeldia, não deixaram a bandeira a meio pau. Por ironia, o próprio Olavo iria adorar esta rebeldia.
Atrás do polêmico Olavo, existem, porém, uma esposa, filhos, netos e uma família. O respeito ao luto deles é que devemos ter atitudes civilizadas. Cada um carrega os seus próprios demônios.

Os que lamentam uma morte devem ser respeitados. Os que comemoram devem ser execrados. Ideologicamente existe agora uma legião de órfãos da sua ideologia, dos seus cursos e os discípulos do contraponto. Sem sua presença física fica as suas ideias submetidas agora ao crivo da história. Quem é contra os pensamentos de Olavo de Carvalho deveria ser o primeiro a defender o direito ao luto. Podemos lutar contra, mas sem jamais perder a humanidade.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã