Ninguém é filho da rua

Ninguém é filho da rua 

Por Cláudio Magnavita*

É inacreditável que uma matéria jornalística tente criminalizar o fato de ser filho de a ou b ou ainda c. Para alguns jornalistas, a política tem sua filiação: São todos filhos da luta, só para não usar o P.

Nas empresas jornalísticas, a descendência não é ofensiva. Cada filho tem orgulho do pai e mãe que possui. São vínculos que ultrapassam a racionalidade pela carga de amor que carregam. Não há amor mais incondicional do que o amor de um pai ou mãe pelo seu filho, que só descobrirá isso quando exercer a paternidade.

A matéria publicada em O Globo, que associa os apoios de filhos de políticos famosos ao governador do Rio, em tom pejorativo, é uma daquelas que devemos guardar para mostrar em palestras o contorcionismo da mídia para criminalizar a política. Filhos de jornalistas, e que são criados em ambientes dos pais, são, muitas vezes, jornalistas melhores, porque possuem um legado a defender.

Ter uma nova geração, que usa o sobrenome que herdou na vida pública, é um fator global na política mundial. Olhe para a América do Norte e vejam quem manda no Canadá? Olhem para a história dos Estados Unidos e vejam os Bush. Aqui no Rio, todos afirmam que Clarissa e Wladimir são edições melhoradas. Ela do pai e ele da mãe. Marco Antônio Cabral emocionou a todos pelo amor ao pai preso, e por desabafo feito em campanha. A filha do Cunha já concorreu, perdeu e sofre com preconceito. Rafael Picciani sofreu com o drama pessoal e hoje é um nome amado.

Da mesma forma que existem jornais que estão na mesma família há várias gerações, como as Marinho, os Mesquitas e Frias, existe este mesmo ciclo na política.

Muitos integrantes de novas gerações correm da vida pública exatamente pelo massacre que viram seus pais e avós sofrerem da condenação midiática. Preconceitos como o desta matéria, que criminaliza não só a política, como os sobrenomes ser rechaçados com veemência. Ser filho não é pecado, da mesma forma que ser pai ou mãe também não é. Vejam o drama que o escritor Sérgio Cabral e Magally sofreram com os malfeitos do filho. Precisamos respeitar a individualidade e evitar que o preconceito migre para o bom jornalismo.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã