Um novo olhar sobre o Galeão

Um novo olhar sobre o Galeão 

A questão do Galeão foge a racionalidade. Esta semana, o governo colocou a Changi na rua. Surgiu nas redes sociais um desabafo de um executivo do aeroporto, que coloca novos pontos de vista sobre a questão. Vale a pena ler este chamamento à reflexão. O texto está sendo publicado no original:

“Nunca trabalhei no Grupo Odebrecht e não participei da elaboração da proposta. Não que isto fosse problema em princípio, mas é só para estabelecer a independência dos dados que apresentarei a seguir.

1) A licitação que resultou na vitória do consórcio Odebrecht-Changi, foi realizada em 11/2013 e disputada por 5 grupos. Entre os consórcios concorrentes existiam operadores como ADP (Paris), Fraport (Frankfurt), e por aí vai. O lance vencedor foi de R$19 bi. O 2º colocado foi R$ 14.5 bi, o 3º quase R$ 12 bi. O consórcio que chegou em 2º declarou posteriormente que chegaria à R$ 16 bi. Portanto, existia uma visão de mercado sobre o valor do ativo. Como comparação ofereço o resultado da 6ª rodada de aeroportos realizada recentemente onde o bloco Sul (Curitiba-Foz- e outros) foi arrematado por R$2.1 bi mais pagamentos anuais de % sobre a receita. O lance mínimo era de cerca de R$ 0.2 bi. Houve mais 2 concorrentes, que ofertaram R$ 1 bi e R$ 0.3 bi, respectivamente. Esses dados parecem indicar que o cenário em 2013 era muito mais competitivo.

2) anos de 2014, 2015, 2016

Execução do plano de investimentos exigido pelo contrato de concessão. Em 30/04/2016 (rigorosamente em dia, e rigorosamente dentro do orçamento – não houve aditivo contratual) as obras para a RIO 2016 estavam prontas. Não vou entrar na operação olímpica, pois essa merece um livro.

Ao mesmo tempo enfrentávamos 2 anos das piores recessões da história econômica do país. O aeroporto teve entre 16 e 17milhões de passageiros nestes anos. Era o primeiro do Brasil a ser certificado para operação do A380 (maior avião comercial do mundo). Trouxemos: Air Canada, Condor, Edelweiss, AeroMexico, entre outras.

Trouxemos a CargoLux para operar rotineiramente no GIG, revitalizamos os armazéns de farmacêuticos no terminal de carga.

Ao mesmo tempo, a Odebrecht se vê no centro da Operação Lava Jato.

3) Dezembro de 2017

Após várias tratativas, a Changi sobe a sua participação de 20% para 51% na RIOgaleão. Neste processo injeta R$ 2.2 bi na companhia para antecipar 2.5 anos de outorgas e reprograma outros 2.5 anos. Tudo isto foi feito sem qualquer desconto sobre os valores devidos ao poder concedente.
Naquele momento a motivação da Changi foi: OK tivemos problemas, o país não cresceu, o sócio teve seus problemas, porém somos investidores de longo prazo, o Rio e o país têm tremendo potencial e vamos cumprir o contrato. Com isso a RIOgaleão obteve 5 anos de “carência” no pagamento de outorgas anuais.
Todas estas tratativas ajudaram na reflexão do governo federal, que começou a aperfeiçoar os contratos das rodadas seguintes.

4) 2018, 2019

Seguimos trabalhando com afinco para desenvolver o aeroporto. Trouxemos 3 companhias low cost para o Brasil: Sky, Norwegian e Flybondi.
Fomos o primeiro aeroporto do Brasil a obter o certificado CEIV Pharma da IATA e nos estabelecemos como referência neste segmento de mercado.
Por outro lado, o Brasil saiu da recessão, porém ainda cresceu cerca de 1% ao ano.

5) 2020, 2021

03/2020 a pandemia atinge em cheio o Brasil e o Mundo. Em março, operávamos 300 voos por dia, em abril 3 voos por dia para GRU somente.

Não preciso entrar nos detalhes, mas está claro para todos no setor que os impactos da pandemia serão sentidos por décadas.

O contrato de concessão é claro ao atribuir o risco de força maior ao governo.

A pandemia é reconhecida como risco de força maior pelo Ministério da Infraestrutura.

O contrato de concessão é claro ao estabelecer que a recomposição tem que ser completa. E não ano a ano como a ANAC vem fazendo. Sem qualquer previsibilidade. Vide matéria hoje no Globo sobre isso, com manifestação da concessionária de BH.

A RIOgaleão preparou seu pleito de reequilíbrio com uma equipe que contou com consultores internacionais. A análise econômica que nos ajudou neste processo foi liderada pelo saudoso Prof Carlos Langoni.

A ANAC negou ao final de 2021 o reequilíbrio completo conforme preconizado no contrato.

6) A RIOgaleão está 100% em dia com todos os seus compromissos perante o contrato de concessão. E 100% em dia no seu contrato de financiamento.

E seguirá trabalhando com afinco para desenvolver o aeroporto até a transição para o novo concessionário. É nosso compromisso.

7) Resumo: Em 2017, a Changi assumiu a responsabilidade pela queda de demanda conforme previsto no contrato de concessão. O risco de força maior materializado pela pandemia a par-tir de 2020 é do governo, conforme previsto em contrato.

8) SDU: durante todos esses anos o tratamento dado ao mercado do Rio diferiu fundamentalmente daquele dado ao mercado de MG, para situações análogas. Somado a isso, como é de conhecimento de todos agora, é um aeroporto que tem diversas não conformidades em suas pistas de pouso.

Acredito que agora o modelo GIG+SDU pode, desde que devidamente regulado, ser muito bom para a cidade e estado do Rio de Janeiro.”