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Quando chorar nos faz mais humanos e ameniza a dor

Quando chorar nos faz mais humanos e ameniza a dor 

Por Cláudio Magnavita*

Quando o solo da gaita de fole começou a tocar Amazing Grace nos jardins do Palácio Guanabara, um frio subiu na espinha dos presentes. Ao crescente movimento musical, outras gaitas escocesas se juntavam. Era difícil segurar as lágrimas, até dos mais sisudos. Estavam ali centenas de pessoas para honrar não apenas as vítimas da tragédia de Petrópolis, ocorrida 30 dias antes, mas também para homenagear aqueles que lutaram pela vida, para retirar dos escombros duas dúzias de pessoas vivas, e para amenizar a dor dos familiares de duas centenas de pessoas que tombaram em uma tragédia natural, sem precedentes na história da cidade.

O crescente da Amazing Grace (vale a pena procurar no Youtube) se juntava aos instrumentos da banda sinfônica do Corpo de Bombeiros, fazendo escorrer as lágrimas de quem pensava no pesadelo real que a cidade viveu em 15 de fevereiro de 2022.

A música, como uma oração, nos conectava a dor, a perplexidade e a esperança da superação. As imagens de uma terra arrasada, de cenas inimagináveis, tocavam a todos. Petrópolis foi alvo de uma solidariedade crescente, bem ao ritmo de Amazing Grace, que vai crescendo e multiplicando os acordes. A homenagem na forma de medalhas foi o reconhecimento ao bem, a vontade de servir e de ajudar.

Estávamos todos em um terreno tão próximo à Petrópolis. O Palácio Guanabara foi a residência da Princesa Isabel, do Conde D’Eu e dos seus filhos, os mesmos que deram origem ao ramo petropolitano dos Orleans e Bragança.

Naquele mágico 15 de março, exatamente às 17 horas, momento do início da tragédia, todas as autoridades do Estado do Rio se curvaram à dor de um povo e das vidas ceifadas pela natureza. O mundo civilizado se curvou por ritos. Rituais como estes são importantes para que, respeitosamente, possamos superar um trauma. Estavam ali os três poderes, no solo que foi pisado pela Princesa Isabel e pelo seu pai, D. Pedro II, para chorar e nos fazer ainda mais humanos.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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