O conflito entre a Bic e a Montblanc

Por: Claudio Magnavita*

O roteiro do ministro Alexandre de Moraes era o mesmo que Sergio Moro queria seguir ou sonhava seguir. Ser Ministro da Justiça e, na sequência ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Tudo rápido e a queima roupa. De ex-secretário de Segurança de São Paulo, ativista do PSDB de carteirinha, aliado do Presidente Michel Temer, a sua carreira do Planalto para a corte suprema foi meteórica.

A casa que deveria ser a guardiã do Constituição coloca de lado a presunção de inocência e condena por antecipação o presidente Jair Bolsonaro, na nomeação do diretor-geral da Polícia Federal, proibindo a posse do delegado Alexandre Ramagem. Age como Moro agiu e comandou a operação para impedir a posse do ex-presidente Lula na Casa Civil. Um ato perfeito, apoiado pela Constituição, e abatido por uma decisão monocrática de um único titular do STF, produzindo efeitos midiáticos e políticos.

Neste caso, não são as instituições funcionando. É a usurpação por um poder do direito de outro. O contraponto está no discurso de posse do novo ministro da Justiça, André Mendonça, que enterrou de vez as viúvas do ex-Sergio Moro. Até a Rede Globo foi obrigado a elogiar a escolha. A mesma caneta Bic que nomeou Mendonça, nomeou Ramagem. Já o uso político da caneta Montblanc pelo Judiciário desafia cada vez mais o bom senso e reafirma a sensação de as Cortes estarem afinadas com interesses políticos.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã