Corrupção materializada

Nesta fase de faxina, um governo que luta para sobreviver tem que pensar em cada passo

Por: Claudio Magnavita*

A prisão do tenente-coronel da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Edmar Santos, pelos atos praticados na Secretaria da Saúde leva a um questionamento: quem indicou e apadrinhou a sua indicação para o cargo?

Quem respaldou politicamente um secretário em compras de R$ 1,2 bilhão?

Só há uma hipótese de o governador Wilson Witzel não ser calcinado neste escândalo: se o elevador da delação subir diretamente para o andar superior, onde está a liderança partidária, que é a fonte de poder de todos, inclusive da audácia do Edmar.

Quando Geddel Vieira foi preso e se descobriu as malas, o presidente Temer não pagou o pato. Ele tinha um ex-ministro que fazia falcatruas, porém a fonte das próprias não estava ligada diretamente à sua atuação no ministério.

O que pesa para Witzel foi ter tentado salvar o pescoço do tenente-coronel, aliás com promoção que ganhou na véspera de Natal, criando uma secretaria fictícia com adornos para manter o foro privilegiado do rapaz. Isso pesa para ajudar na nuvem de cumplicidade.

Se o elevador da delação subir direto, e não passar no gabinete, o dolo será menor e poderá até ajudar na defesa do processo de impeachment.

Nesta fase de faxina do governo, é preciso evitar arestas, como a retenção ilegal aos municípios do percentual do ICMS ou ainda das retenções de ISS, que são realizadas na fonte. Isso é apropriação indevida.

Os seus secretários precisam ser respeitosos com a Alerj. Na sexta-feira, ao participar de forma itinerante de uma audiência para discutir o caos das refeições e merendas escolares, com alunos passando fome, o secretário Pedro Fernandes encerrou a audiência sentando em uma churrascaria de rodízio, garçons passando com espetos de carne, enquanto se discutia a falta de comida para alunos.

Um governo que luta para sobreviver tem que pensar em cada passo. Não pode ficar omisso no episódio do dia. No mínimo, deveria ter emitido uma nota de apoio ao MP-RJ e colocar os recursos do Estado à disposição dos investigadores. As imagens do dinheiro agora levarão a crise ao povo. A crise ganha novas proporções, inclusive eleitorais.

*Claudio Magnavita é Diretor de Redação do Correio da Manhã