A imprensa deve respeitar os ritos de uma investigação

A mídia deve respeitar os andamentos dos processos e não tentar adivinhar o que está acontecendo com eles

Por: Claudio Magnavita*

O papel de investigação da imprensa é sagrado. Só com uma imprensa livre a sociedade pode dispor de uma ferramenta capaz de acabar com abusos, corrupção e os excessos cometidos por autoridades e integrantes dos três poderes.

O bom jornalismo é o que desnuda os fatos de forma imparcial e fundamentada. O ingrediente deve ser um só: a verdade.

As investigações do Ministério Publico e o jornalismo investigativo possuem vários nuances comuns. Muitas vezes são as denúncias da imprensa que movem a primeira peça do MP.

Cabe, porém, ao Ministério Público investigar, denunciar e para isso existem etapas para tornar o passo final, a denúncia na Justiça perfeita. Uma investigação impecável gera a condenação.

Estamos vivendo um período perigoso no qual parte da imprensa quer concorrer com o Ministério Publico. Quer apurar, quer revelar detalhes de investigação e que resultem muitas vezes no naufrágio de um processo cauteloso de colher dados. Muitas vezes a cumplicidade perigosa entre MP com a mídia, como ocorreu em Curitiba na Lava Jato, leva a uma condenação midiática, em nome de blindar as investigações do promotores de pressões políticas ou interferências poderosas.

A mídia tem que aprender a respeitar os processos em curso. O que está ocorrendo nestes dias, com o jornalismo tentando decifrar e adivinhar o que está ocorrendo no caso do tenente-coronel Edmar Santos chega a ser vergonhoso.

O jornalista aceita o silêncio como parte de um processo de investigação. O vazamento de fontes privilegiadas pode levar o bom jornalismo a se distanciar da verdade.

Se Edmar fez ou não delação, deveremos esperar e não adivinhar ou deduzir.

A mesma promiscuidade entre mídia e Ministério Público não deve existir entre MP e Justiça.

A Lava Jato firmou uma jurisprudência perigosa. É dever da imprensa informar, investigar e denunciar, até mesmo quando é o próprio MP alvo de malfeitos. Somos porém universos que se tocam, porém diferentes. A responsabilidade da imprensa tem ser também cobrada, como fazemos agora neste editorial, até porque ao jornalista não é dado o direito divino de errar e de corrigir a informação. A condenação neste caso é ainda mais grave: a perda da credibilidade.

*Claudio Magnavita é Diretor de Redação do Correio da Manhã