Para Witzel, a culpa é da Lindora

Governador comemorou antes da hora a decisão da subprocuradora geral da República Lindora Maria Araújo 

Por: Claudio Magnavita*

A subprocuradora geral da República Lindora Maria Araújo acabou com a festa do governador Wilson Witzel, que comemorou nas redes a sua exclusão na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Estadual, que jogou toda a responsabilidade da improbidade administrativa na conta do tenente-coronel da Polícia Militar Edmar Santos e seus companheiros.

Nunca assistimos um chefe do Executivo comemorar que seus auxiliares diretos fossem acusados de roubo. Aliás, para o MP-RJ, o grande vilão é o ex-secretário de Saúde, parecendo esquecer que foi o próprio governador que criou uma secretaria Fake para Edmar manter o seu status e fórum privilegiado. Proteções a parte, o MP-RJ, que terá o seu próximo comandante mor escolhido dentro de três meses pelo festivo Witzel, colocou como primeiro réu o Governo do Estado do Rio e pede que a citação seja realizada na pessoa do Governador do Estado.

É como se um ônibus da Viação Tabajara atropelasse um casal de idosos e fosse colocado como réu apenas o cobrador, o fiscal do ponto, o supervisor e a própria empresa. O condutor não entraria no processo, apesar de comandar a viatura.

Como imaginar que uma fraude de R$ 1,2 bilhões na contratação de respiradores e de hospitais de campanha ocorresse sem o conhecimento ou autorização do chefe do Executivo estadual. E tudo isso em uma pandemia de guerra.

O governador passou a quarta, 5 de agosto, dizendo cobras e lagartos da subprocuradora Lindora, que acabou com a sua festa, ao incluir na sua petição ao ministro Benedito Gonçalves trechos como estes: “investiga-se, assim, no INQ nº 1338/DF, crime de constituição e integração de organização criminosa (além de diversos outros). Essa ORCRIM, integrada por EDMAR SANTOS, GABRIELL NEVES e que possivelmente tem, na cúpula, o Governador WILSON JOSÉ WITZEL é o mesmo grupo criminoso investigado pelo MPRJ...”

Ou ainda “A diferença é que, limitado pelo foro constitucionalmente deferido aos governadores, o MPRJ não quebrou os sigilos, não realizou busca e apreensão e não teve acesso a elementos de prova que claramente colocam WILSON JOSÉ WITZEL no vértice da pirâmide, atraindo, sem nenhuma dúvida, a competência do STJ.”

O governador comemorou fora de hora. Foi precipitado. O mundo real não é o das redes sociais. Na justiça, ela ocorre nos autos. A petição da subprocuradora geral deve ser respeitada e os ataques pessoais fazem parte de um desespero proporcional a sua euforia, com a decisão estadual.

O governador deve é se preocupar com os desdobramentos ligados à sua esposa, Helena Witzel, que responde hoje por 70% da renda familiar, e que no processo é investigada por contrato firmado e depósitos feitos na sua conta por agentes suspeitos. Uma equação que coloca o casal como empregado do Pastor da Assembleia de Deus, Everaldo Pereira, presidente do PSC. Vínculo que derruba os argumentos da impessoalidade.

Deve também se preocupar com a reabilitação de uma Organização Social, realizada com a sua própria assinatura, que, na versão eletrônica, faz referência um antigo paraíso fiscal, Andorra, e que foi desabilitada por inúmeros mal feitos. Contrariou tudo e agora ficam comprovados os vínculos da relação familiar de um dos seus amigos e maiores frequentadores do seu gabinete com a Organização Social.

*Claudio Magnavita é Diretor de Redação do Correio da Manhã