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Não é hora de deputados secretários

Por Claudio Magnavita*

Ao formar o novo governo de transição, o Governador em Exercício, Cláudio Castro, tem que estabelecer uma relação de distanciamento respeitoso com o Legislativo enquanto durar o processo do impeachment.

Colocar deputados em secretarias seria indiscutível a partir de janeiro, quando já teremos um cenário definitivo.

Trazer parlamentares agora pode ser precipitado. Existe a vantagens de colocar os CPFs de cada convidado para dividir a responsabilidade. O ônus maior é deixar contaminada a imagem do processo de afastamento do Governador Wilson Witzel, iniciado pela Alerj e hoje nas mãos do Tribunal Misto formado por cinco representantes do Judiciário e cinco do Legislativo.

Ao negociar com partidos e deputados estaduais que formam o tribunal misto, como é o caso do Republicanos, o atual Governo pode promover, mesmo que involuntariamente, um desequilíbrio na balança da justiça, deixando os desembargadores – que farão um julgamento mais técnico – liberados para conceder os três votos que colocam Wilson Witzel de volta ao poder.

O governador afastado não está morto. Passou a semana usando a mídia para uma calorosa defesa. Esteve na Jovem Pan e com Datena, na Band, colocando sua defesa em um tom que surpreende a muitos.

Estes jornalistas nacionais, distantes da realidade do Rio, engolem fácil o debate entre Witzel x Bolsonaro ou ainda Witzel x PGR.

Não estudaram o caso para mergulhar em denúncias mais explosivas, envolvendo Mario Peixoto, Unir Saúde, Antonio Vanderler, doações de campanha de dirigente de OS, Lucas Tristão, os contratos advocatícios da Helena, o seu emprego e da esposa no PSC, Pastor Everaldo Pereira e Leo Rodrigues.

Ao nacionalizar o debate, a cruzada midiática de WW turva a realidade e facilita uma percepção de ausência de dolo.

Estabelecer um governo com a participação de deputados e partidos a partir da definição do Impeachment e confirmado no cargo é totalmente legítimo. Fazer isso agora pode ser precipitado e fragilizar um veredito final que depende apenas de três votos para fazer o atual castelo de cartas ruir.

O Governador em exercício está certo em construir uma imagem de simplicidade, de saneador e de bom gestor. Serve para o período de interinidade e pavimenta o seu futuro político.

Um erro foi trazer o deputado Thiago Pampolha agora. A única vantagem visível foi dar foro especial para o suplente Sérgio Fernandes, envolvido nas confusões da Leão XIII. O PDT reagiu publicamente, ou seja, o parlamentar não fez o seu dever de casa. Trouxe mais problema do que solução.

A Alerj tem um papel histórico neste processo e é preciso não macular a imagem do Legislativo. Witzel ofereceu cargos e a Assembleia resistiu à sedução jujuba.

Este horizonte, do governo transitório, é de curto prazo e o mais difícil de ser construído.

Agora é hora de faxina, de uma gestão técnica que resista até a definição do tribunal misto e até haver um retrato definitivo.

Como temos visto na mídia, Witzel está bem vivo e disposto a retomar o mandato de governador para qual foi eleito. Para isso, precisa de apenas três votos.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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