O decadente decano

Por Claudio Magnavita*

O que assistimos na televisão na sessão do STF foi um massacre. Um massacre da postura, da ética e da convivência entre pares civilizados. Foi um retrato fiel da polarização, da falta de civilidade e de respeito entre pares.

O ministro Marco Aurélio Mello conseguiu rasgar a sua toga, promovendo um strip-tease de envergonhar a nação. Cada povo tem a Suprema Corte que merece.

No seu voto, neste lamentável 15 de outubro, Aurélio disparou uma incontinência verbal contra a figura de presidente da corte, reduzindo-o a um mero coordenador. Falou em cestos, quem faz um faz cem.

Quem merece aplauso foi o Ministro Luiz Fux, que ouviu de forma digna os ataques e manteve o princípio da serenidade, mesmo ficando vermelho e engolindo em seco a cada descompensada do colega.

O troco de Fux foi de uma elegância que merece entrar para a história dos grandes embates dos tribunais. Demonstrou que está preparado para o cargo. Lembrou o indefensável: o decano Marco Aurélio Mello libertou, sem remorso, um traficante internacional de drogas.

Resta ao ministro decano explicar a estranha coincidência de o traficante ter como advogado a sócia do seu ex-assessor. Só a existência deste fato já deveria causar constrangimento.

O decadente decano honrou o seu DNA. Não há como mudar a história. Ele chegou à corte como primo do então presidente Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente a sofrer impeachment no país, também adepto as truculências verbais, filho de um senador, Arnon de Mello, que atirou no plenário em um colega, matando um suplente que estreava na casa.

Ainda bem que a triste reunião foi virtual.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã