Ausência total de pudor

Por Claudio Magnavita*

O que ocorreu na sessão do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro – TCM –, nesta quarta, 3 de março, é digno de figurar em um episódio da minissérie “Dr. Castor”. Coisa de “capo di tutti capi”. Até na Liesa, liga que reúne os dirigentes das escolas de samba, o ambiente é mais democrático e comportado.

A sessão era a última do conselheiro José Moraes, que completa 75 anos esta semana e cai na compulsória. Ele leu os seus últimos votos e deveria fazer o seu pronunciamento de despedida. Moraes e o presidente Thiers Montebello são desafetos há anos. Os dois têm a mesma idade. Um sai agora e o outro em abril.

Em um dos votos, José Moraes fez uma denúncia gravíssima. A participação de Montebello em uma sociedade com um pessoal alvo de denúncias e investigação.

O relatório pedia o envio para do processo para o Ministério Público. Antes que o voto fosse proferido, um conselheiro convocado (temporário) pediu vistas ao processo, impedindo a leitura do voto. José Moraes solicitou que o voto fosse consignado para ser anexado depois, pedido rechaçado pelo presidente: “O processo não está mais com o senhor”.

A sessão foi interrompida de forma abrupta, com Montebello não deixando que o conselheiro fizesse a sua despedida. A truculenta reunião ganhou a mídia e a denúncia foi amplificada, chamando atenção do Ministério Público. A corte que deveria zelar pela moralidade deu, através do seu presidente, um péssimo exemplo.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã