Rock é coisa nossa

Se há uma boa notícia circulando nesta terra de sucessivos acontecimentos desastrosos é a chegada de mais uma edição do Rock in Rio. A Cidade do Rock, instalada no Parque Olímpico, abre as portas nesta sexta-feira, 27 de setembro, e pelo menos três dos seus sete dias de espetáculos já estão esgotados. Como a gente aqui gosta de se programar de última hora mesmo, pode-se dizer que, mais uma vez, a festa será um sucesso total.

Esta é a oitava vez que a cidade se prepara para receber ídolos de todos os estilos musicais e milhares de turistas. Segundo estudos realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o festival deste ano deverá injetar nada menos R$ 1,7 bilhão na economia da cidade.

Pelas estimativas dos organizadores, cerca de 700 mil pessoas vão aplaudir os shows. Desse total, nada menos que 420 mil delas serão turistas, ou seja, vão investir também nos produtos e serviços oferecidos em toda o Rio, e não apenas nos 17 espaços reservados para atrações extras na Cidade do Rock. Ao fim dos sete dias de atividades, mais de 250 atrações terão passado por algum dos nove palcos do festival.

Parece exagero dizer que, em plena crise econômica do país (e do mundo), atrações de música popular sejam capazes de mover tanto dinheiro em tão poucos dias. Mas faz sentido. A edição anterior do festival, que ocorreu há exatamente dois anos, movimentou R$ 1,4 bilhão. Foram 700 mil ingressos vendidos.

Agora, as entradas para cada dia de Rock in Rio custam R$ 525, com opção de meia e a cota com 15% de desconto para os clientes de um banco patrocinador da festa. Só com isso já se pode calcular uma montanha de recursos para a iniciativa privada e para o poder público, através dos indefectíveis impostos.

Veja-se a questão das hospedagens. Com tantos “gringos” circulando pela cidade, a ocupação dos hotéis em bairros como Barra e São Conrado, que ficam no entorno da Cidade do Rock, já chega a 100% mesmo antes de o primeiro acorde soar no Parque Olímpico.

Já nos bairros mais famosos da Zona Sul - como Leblon, Ipanema e Copacabana - hotéis e estabelecimentos já registram taxa de 85% de ocupação - com viés de alta para os próximos dias.

Não há estatísticas confiáveis sobre o aumento das reservas de apartamentos e casas via sites de aluguel por temporada, mas o otimismo não é muito diferente, a julgar por uma visita a sites como o Airbnb, líder do setor, ou em comunidades do Facebook. Parece que todo mundo consegue tirar uma casquinha desses recursos extras que estão desembarcando.

A propósito, de acordo com fontes do ramo hoteleiro carioca, já há alguns anos que o festival equivale a um réveillon (ou um carnaval) fora de hora.

Sabe-se ainda que o pessoal da área de gastronomia também fatura com o apetite geral. Já em relação à turma do transporte, não é difícil arriscar: vão faltar Uber e congêneres para tanta gente indo e vindo. Festa é assim.

Por essas e por outras estimativas, o Rock in Rio está longe de ser um assunto restrito a conversas nas redes sociais, páginas de jornais e sites de cultura e entretenimento. Quando se trata de faturamento, o Rock in Rio é coisa muito séria.

Curioso, no caso desse festival único, é que ele se consolidou como um festival para todos os gostos - e na maior paz. É até divertido acompanhar a circulação de fãs de “diferentes tribos”. Não estranhe, portanto, que metaleiros de primeira linha - daqueles que vão dar nó na cabeleira ao som do Iron Maiden - cruzem alegremente com fãs da Anitta. Não que seus ídolos estejam juntos no mesmo palco ou no mesmo dia, mas é ali naquele caldeirão que todos vão se esbarrar. Ou, ao menos, no metrô.

Enfim, a grande festa está chegando. Deixemos que fãs e especialistas debatam ardentemente a respeito de quais artistas vão brilhar, quais novidades vão surpreender, quem vai desafinar, quem ficará faltando. No fim das contas, todo mundo vai se divertir.

Mui a propósito, podemos aproveitar a ocasião e torcer fortemente para que algumas autoridades, a postos em qualquer esfera, deem uma passada no Parque Olímpico para sentir o clima comemorativo. Nem precisam dançar, cantarolar, nada disso. Basta que demonstrem um mínimo de sensibilidade e alguma inteligência política para reconhecer que o Rio é o melhor lugar do mundo para promover eventos dessa natureza. E que, portanto, cabe a eles, como indutores de políticas públicas, a nobre tarefa de abrir as portas - da cidade, do estado ou do país - para festivais semelhantes.

E, de preferência, que estes sejam realizados com muita frequência. Afinal, gerando tantos números positivos para a economia da cidade, não seria má ideia se os organizadores se desdobrassem para promover um Rock in Rio todo santo ano. Será que dá pé?