O péssimo exemplo da Bahia

Por Cláudio Magnavita

Quem assistiu a nova safra de comerciais do governo da Bahia ficou atônito. O radicalismo da mensagem de morte supera o mínimo de decência. Imputa ao cidadão a responsabilidade sobre a perda de parentes e pessoas queridas. Saudade da era em que publicidade baiana estava nas mãos de gênios como Duda Mendonça, Nizan Guanaes, Geraldão, Sérgio Amado, Edinho, Sydnei Resende – só para citar uma safra que virou referência nacional.

Esta campanha é mentirosa. Um governo que não resolve o problema do transporte coletivo, que coloca a sua população mais humilde em máquinas de contaminação coletiva, que não defende o emprego e a renda dos que vivem da economia informal, chega a ser criminoso ao imputar ao trabalhador o ônus dos óbitos.

Para o governador petista Rui Costa, morando no Palácio de Ondina, uma mansão em uma área paradisíaca (e cara) de Salvador, é fácil chamar de criminoso aquele para quem sair de casa faz a diferença para ter comida ou um mínimo para sobreviver. Esses burocratas bem assalariados podem se dar o luxo de um home office que a renda estará garantida. Andam em carros e aviões privados.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ficou 11 meses trabalhando em home office. Ganhou prêmios, especulou na bolsa e vendeu refinarias abaixo do valor real. Ele nunca teve de andar de BRT no Rio.

São os mesmo burocratas que fecham as portas das empresas, mesmo aquelas que fizeram o dever de casa na questão sanitária, e não se preocupam com os efeitos colaterais: falência e desemprego.

O uso eleitoral do medo virou uma referência do jogo político. É a bala de prata, ou melhor, platinada, por causa da Globo, que acharam para derrubar ou desgastar o presidente Jair Bolsonaro.

O caso da Bahia, com seus anúncios, passou dos limites. Imputar a perda de entes queridos à irresponsabilidade do comportamento da população é abrir feridas e criar traumas para quem já sofreu uma perda.

Os governadores de oposição, na sua maioria, não fizeram o dever de casa nas coisas básicas. Eles e seus séquitos continuam bem remunerados e alimentados. Aliás, uma norma brasileira: quanto maior a miséria do povo, maior é o salário dessa elite de demagogos.

A Covid está cobrando seu preço e a história saberá compartilhar as responsabilidades, que, com o aval do STF, passou a ser dos governadores e dos prefeitos. Tentar jogar a culpa em Bolsonaro faz até parte do jogo sórdido da política brasileira. Agora, transferir para o povo trabalhador chega a ser hediondo.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã