Por:

O Médico e o Monstro

O Médico e o Monstro

Por: Cláudio Magnavita

Quando Spencer Tracy estrelou em 1941 o filme “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, dirigido por Victor Fleming, e conhecido aqui como “O Médico e o Monstro”, baseado na obra de Robert Louis Stevenson, estava universalizando uma história que mostra a dualidade do ser humano. O que aconteceu no Rio 80 anos depois do filme e 135 anos após o lançamento da novela demonstra que vida tem sempre superado a ficção.

O caso do Dr. Jairinho, um médico que na política se porta como o sensato Dr. Jekyll, esconde na realidade o Mr. Hyde, personalidade maligna capaz de crime e atrocidades.

Uma perfeita investigação policial hoje reúne provas sobre a existência entre nós de um Médico e um Monstro.

A imprensa não deve se pautar por bola de cristal. Devemos saber esperar os fatos serem apurados, investigados e documentados. O jornalismo brasileiro carrega o fardo da Escola Base, episódio de uma condenação pública na qual o açodamento investigativo da mídia falhou. A imprensa funcionou como um amplificador de uma investigação implacável para atender a comoção da opinião pública.

Que o Dr. Jairinho encarna o Médico e o Monstro em uma só pessoa, a polícia já provou. O que precisamos é colocar a lupa sobre o sistema que irriga estes tumores e constrói mentes doentias.

O próprio Jairinho é um dos inúmeros herdeiros de oligarquias políticas que elegem ou contratam seus filhos em vida pública, que os remuneram acima do normal. Os valores são banalizados, inclusive o da vida. “Vira esta página e faz outro filho” ele disse ao pai do Henry. São esquizofrênicos com poder, capazes de ligar para um governador na madrugada ou para um diretor médico de um grupo hospitalar para liberar o atestado de óbito de uma vítima traumatizada.

O mesmo poder que o leva a nomear a namorada com um salário de R$ 14 mil no TCM-RJ e aumentar o status financeiro para patamares muito acima das suas condições reais. Emblemática também foi à contratação da babá, em passado recente, pela Prefeitura do Rio. Tanto a mãe como a babá do Henry não foram capazes de sair dessa teia de favores pagos com o dinheiro público.

O nosso Médico e Monstro merece apodrecer na jaula. A polícia, especialmente a 16ª DP merece aplausos. Reverter o depoimento da babá finalmente mostrou a assertiva do bom trabalho policial.

A banalização da vida é o fruto mais podre desta estrutura que irriga, com dinheiro público e poder, um sistema no qual o DNA, mesmo defeituoso, vale mais do preservar a vida de um anjo de apenas 4 anos.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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