Witzel nunca nos enganou

Witzel nunca nos enganou

Por Cláudio Magnavita*

Jornal que não faz oposição só serve para embrulhar peixe. A frase foi de um leitor do Correio da Manhã sobre a atuação do jornal nas denúncias ao então governador Wilson José Witzel.

Em setembro de 2019, quando o Correio da Manhã voltou a circular, resgatávamos a série de reportagens que fizemos em 2018, nas quais  denunciávamos, em outros veículos do nosso grupo editorial, as operações que envolviam o pastor Everaldo Pereira e seus comparsas.

Para o Correio da Manhã foi um período duro. Estávamos isolados na posição de críticos de um governo com menos de um ano, eleito sob a bandeira da moralidade e apoiado em um elevado nível de soberba.

Nessa fase inicial, muitas lideranças empresariais, ainda seduzidas pelo personagem vestal de Witzel, achavam que o jornal estava sendo injusto ou até “fazendo imprensa marrom”. Paulatinamente fomos revelando os personagens daquele xadrez maquiavélico.

Resistimos com um sonoro não à tentativa do estado em nos seduzir com verbas publicitárias e até a compra de uma sobrecapa do jornal, a exemplo do que fazia com os concorrentes. Nossa resposta foi: “Por uma questão de coerência editorial, não aceitamos publicidade do Governo do Estado enquanto o senhor Witzel for governador”.

Pouco a pouco outros veículos foram dando ressonância às nossas matérias e o Correio da Manhã também repercutia o jornalismo investigativo de outros colegas, como o jornalista Rubem Berta. Depois,  virou praxe: nossas matérias migravam para os telejornais e até páginas de jornais concorrentes, muitas vezes sem que citassem a fonte.

Hoje, nos dez votos do Tribunal Misto, conferimos a consolidação de todas as nossas denúncias, especialmente as relacionadas ao Pastor Everaldo Pereira. Em 2018, nossa manchete “Ele quer ser o novo dono do Rio”, acompanhada por uma foto de Everaldo, na capa do “Jornal da Barra”, profetizava o que ele viria a se tornar um ano depois.

Por duas vezes o Correio da Manhã foi notificado pelos advogados do Everaldo. Notificações que guardamos como troféus. Nada nos intimidou.

Personagens foram desnudados. Em manchete, revelamos a estranha relação do governador com o seu amigo capixaba Lucas Tristão.

Publicamos com exclusividade ¬– e em sobrecapa – o documento que reabilitava a UNIR Saúde com a assinatura do próprio punho do governador. Era a prova do crime de responsabilidade que resultou no impeachment.

Em alguns diálogos com o nosso diretor de redação, Witzel mandou que ele “cuidasse da sua alma”. Uma ameaça nada velada que foi comunicada às autoridades, inclusive à PGR.

Aquelas lideranças empresariais, que no início rechaçavam as posições do Correio da Manhã, começaram a compreender que “infelizmente” estávamos certos.

O jornal foi muitas vezes fonte para a Comissão da Saúde e da Covid da Assembleia Legislativa, presidida pela deputada Martha Rocha, e que teve como relator o então deputado Renan Ferreira.

As denúncias que começamos a fazer em 2019 ajudaram a compreender como funcionava o esquema de corrupção que chegou junto com a covid-19. Eram os mesmos personagens – só que atuando de forma desmedida – e os esquemas de Everaldo na Cedae, Mario Peixoto, Tristão, Felipe Pereira, Edson Torres , Helena Witzel e o próprio Wilson.

Apontamos que o esquema de Witzel e a sua cumplicidade alimentavam o precoce sonho presidencial.

O Correio da Manhã cumpre o seu papel e mostra que a corrupção está viva. O governador Witzel sofreu impeachment por causa da relação com duas organizações sociais, UNIR e IABAS, e agora temos denunciado o carnaval da Prefeitura do Rio, com personagens semelhantes privilegiando algumas queridinhas, como a Viva Rio. No estado, a Ideia e a Mahatma Gandhi merecem atenção. Vamos colocar a lupa. Afinal, jornal que não faz oposição só serve para embrulhar peixe.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã