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As diferenças do Lulismo e do Bolsonarismo

As diferenças do Lulismo e do Bolsonarismo

Encontro de Malafaia com Wajngarten  sinaliza os acertos da posição do ex-chefe da Secom

Por Cláudio Magnavita*

O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten recebeu em São Paulo, na segunda-feira, para um almoço sua na residência, o pastor Silas Malafaia. O encontro sinaliza muito, já que o líder religioso passou a ser uma das pessoas mais ouvidas pelo presidente. Se Wajngarten fosse petista e Lula, ameaçado por uma CPI, desse uma entrevista à “Veja”, desviando o foco do presidente, apontando o dedo para uma máquina burocrática que emperrou a compra das vacinas da Pfizer no Ministério da Saúde, ele seria considerado um herói. Seria o companheiro que se jogou na frente da bala ou facada para defender o chefe, no caso o ex-chefe.

O Lulismo prática um sofisticado jogo de xadrez no qual os movimentos são pensados com sofisticação. Herança de Jose Dirceu, que não deixava ninguém se embriagar pelo poder ou pelas benesse financeiras. Foi só ele sair de cena que o castelo desmoronou e a promiscuidade da empreiteiras levaram todos para o cadafalso.

A forma como Fabio Wajngarten foi tratado pelos integrantes do governo após a entrevista e até depois de ouvido na CPI irrita pelo primarismo das críticas. Será que no entorno do presidente, no núcleo mais próximo, ninguém consegue enxergar com mais profundidade? De antecipar os passos?

Será que no Bolsonarismo que se constrói no Planalto só há lógica imediatista ou espaço para puxa-sacos?

O Bolsonarismo, para enfrentar o Lulismo, terá de se refinar. Pensar com sofisticação. Antecipar, por exemplo, que o senador Rodrigo Pacheco foi uma cobra criada no seio dos puxa-sacos e agora quer se viabilizar como a terceira via, de braços dados com o Kassab. Quem inventou o Pacheco?

Será que a ABIN e os órgãos de controle são incapazes de investigar o passado de negócios do Eduardo Pazuello e a tentativa de fazer obras milionárias no Rio sem licitação? Não conseguem identificar uma relação de pedinte que existia em um passado próximo?

É certo colocar o general-bomba na manifestação para lançá-lo candidato a alguma coisa no Rio e irritar o alto comando do Exército por essa rebeldia eleitoral?

Quem apontou o dedo para o “paradoxo ambulante” foi  Fabio Wajngarten. Ele estava errado ao dizer que as coisas lá não funcionavam? Duas semanas depois, o presidente coloca o general-bomba no colo e irrita todo o alto comando. Quem explica?

O Bolsonarismo, para existir, precisa ter doses de estratégia de médio e longo prazo. Não pode viver como se não houvesse amanhã.

As urnas de 2020 já deram alguns recados fortes. No Rio, Rogéria Bolsonaro, ex-esposa de Jair e mãe de Flavio, Eduardo e Carlos, apesar de estar diariamente no horário gratuito e usando o sobrenome da família, não chegou a 2 mil votos. O próprio Carlos teve um terço dos votos planejados. Se o conceito de Bolsonarismo houvesse sido ideologicamente trabalhado seria diferente.

O maior inimigo visível do governo são as organizações Globo. O único que enfrentava cientificamente esse adversário era Fabio Wajngarten, no comando da Secom. Foi ele que inventou o Fabio Farias, genro de Silvio Santos, e que misturou telecomunicações com comunicação social. Meses depois, como mais um ministro puxa-saco, ele cuidou de fritar o seu padrinho.  A ABIN, com o Pegasus, já capturou alguma conversa de Farias com representantes  da Globo, ou pior, na agenda do 5 G?
Fabio, já demissionário da Secom, foi escalado para ir a Israel. E foi. Na volta, exonerado, se manteve fiel ao conceito de um Bolsonarismo estratégico. O mesmo ocorreu com Osmar Terra, Marcelo Álvaro Antonio e Ernesto Araújo. Ficaram fidelizados a um conceito de grupo. Bem diferente de um Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro.

Com mandato de vice, Hamilton Mourão não pode ser exonerado. Ele deveria ser um dos poucos escalados para o que o presidente precisa ouvir e não aquilo que quer ouvir. Porém, o mesmo grupo de puxa-sacos é pródigo na teoria da conspiração e afasta quem realmente pode ajudar.

Nos primeiros meses de governo, a ruptura era necessária. Essa fase passou, e o país mergulhou no medo e na crise de uma pandemia.

Já estamos na  etapa final do governo. A crise atinge o bolso, a bolsa, os empregos e o auxílio emergência murchou. Nenhum presidente se reelege se a economia não estiver nos trilhos.

No caso da sucessão de 2022, o Lulismo existe e está aglutinando forças. O povo tem saudade da era de bonança do PT, não se importando mais se o roubo era para financiar o projeto político ou para um sítio em Atibaia.

Cercado de puxa-sacos, o presidente vai ficando sozinho. Alguns mais experientes já desistiram de se aborrecer. As manifestações são fruto de uma base de 25% do eleitorado. O problema é saber onde estarão os outros 75% dos votantes.

Sem estratégia de médio e longo prazo, o Bolsonarismo fica enfraquecido por um Lulismo sagaz.

Esse encontro de Malafaia com Fabio Wajngarten é um marco e não ocorreria se o pastor tivesse o mesmo pensamento do cordão de puxa-sacos. Sem um Bolsonarismo estratégico, não haverá vitória em 2022. O embate não será entre Luiz Inácio e Jair Messias, mas entre o Lulismo e o Bolsonarismo.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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