Os tolos e os loucos

Os tolos e os loucos

O perigo da arbitrariedade oportunista nos dois lados da crise entre poderes

Por Cláudio Magnavita* 

Quando os fiscais da Anvisa acompanhados de agentes da Polícia Federal entraram em campo e interromperam o jogo entre o Brasil e a Argentina, em atitude inédita na história do futebol mundial, a mediocridade que transforma burocratas em super-homens atingiu seu ápice. Pouco importa a frustração de milhões de brasileiros ligados na televisão no Brasil, na Argentina ou no planeta. Pouco importa a lição de autoritarismo que passamos ou ainda, um atestado global da burrocracia de dirigentes investidos de um poder que desafia a lógica e busca descaradamente o show.

É notório que o presidente da Anvisa é desprovido de bom senso. Suas gravatas e bonés, que trazem estampada a cruz da Ordem de Malta, são um dos exemplos. Por que não impediu o jogo antes de começar? Por que colapsar a grade de programação de uma emissora que fazia a geração de imagem e que deixou a população perplexa? O convívio dos quatro já estava consumado em campo. Se o risco era Covid, a contaminação já tinha ocorrido. Uma regra básica é que o show não pode parar. Que colocasse na cadeia após a partida os jogadores que burlaram e, principalmente, os seus dirigentes.

Um amigo do Correio da Manhã sempre disse que devemos ter medo dos tolos e dos loucos. Nesse caso houve uma conjunção dos dois. Agiram com a mesma arbitrariedade dos seguranças que fizeram condução coercitiva de associados do Clube Pinheiros por estarem falando mal do chefe. Na calúnia e difamação não se aplicam medidas similares. Os tolos estão perigosamente nos dois lados deste conflito institucional. Se fosse o SBT ou Record transmitindo o jogo Brasil e Argentina teriam encerrado a partida? Fica a dúvida. Se a roda de bar do Pinheiros fosse contra Bolsonaro, e estivessem falando mal do presidente, e a Polícia Federal levasse um deles à força para a Delegacia, a justiça ficaria calada? Fica a dúvida. Não há nada mais perigoso do que a arbitrariedade oportunista. Uma boa reflexão para este 7 de setembro inusitado.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã