Por:

Liberdade de opinião não pode ser censurada


Liberdade de opinião não pode ser censurada

Por Cláudio Magnavita*

Uma semana tumultuada para a imprensa. A Folha de S Paulo foi na jugular de Lula. O candidato voltou a defender que o seu maior erro foi não ter regulado a mídia. Seguindo o modelo do governo de Cristina Kirchner, na Argentina, o PT tem como pauta regular a concentração dos grupos de comunicação. Uma ideia que ressurge com força agora com a entrada do Lula na disputa presidencial.

A CNN demite Alexandre Garcia, exatamente no papel de contraponto que fazia na franquia a cabo. Uma mudança de rumo que coincidiu com a chegada de ex-executivos da Globo àquela casa.

Na mesma semana, o Manhatan Connection encerra a sua temporada na TV Cultura, emissora sob comando do Governo de João Doria em São Paulo.

Seriam fatos corriqueiros de empresas de comunicação, se não tivessem um elo comum. Garcia foi acusado  de defender um ponto de vista pró-Bolsonaro, no uso do tratamento precoce, e o Manhatan teve a audácia de colocar a deputada mais votada na história do país, Janaína Paschoal, da Alesp, que defendeu o presidente e alegou não existirem motivos para o impeachment.

Um outro movimento  gerou  reação contra a Veja por haver feito uma entrevista honesta com o presidente. Capa batendo, pode. Capa reproduzindo o ponto de vista do  chefe do executivo, não pode.

O grande paradoxo é Jair Bolsonaro nunca ter falado em censurar a mídia. De criar mordaças, como defende Lula. O máximo que ele faz é xingar veículos que lhe fazem uma oposição cerrada, se recusar a falar com os seus representantes ou recorrer ao cercadinho e lives para apresentar um contraponto.

No caso da Cultura, é grave. Trata-se de emissora pública e, se comprovado o uso político eleitoral, deveria ser punido. Na franquia da CNN no Brasil, Alexandre Garcia tem mais seguidores em seu canal nas redes sociais do que eles. O projeto da CNN fica empastelado. Vai ser mais do mesmo, perdendo o contraponto tão necessário da mídia.

Outro alerta é sobre a censura do Judiciário, especialmente o STF contra blogueiros e militantes nas redes sociais. Uma atitude que merece toda uma reflexão específica e profunda pelos excessos que foram cometidos.

Bolsonaro tem pontos fracos em relação à mídia. Não conta com  um secretário nacional de imprensa na estrutura da Secom, transformada apenas em uma compradora de mídia, que, aliás, faz isso de forma técnica e não pede nada em troca. A Rede Globo recebe mais de 30% do bolo publicitário destinado à Televisão, proporcional ao seu marketing share, ou em bom português, participação de mercado. As demais seguem o mesmo critério técnico. Até o SBT, que é familiarmente ligada ao ministro das Comunicações Fabio Faria, recebe exatamente a média dos últimos anos,  nem um centavo a mais ou a menos.

Para não irrigar o meio jornal, no qual estão seus principais adversários, a publicidade oficial é inexpressiva. Adiantamos que não se trata de um choro do Correio da Manhã, já que por decisão do jornal, não foi realizado cadastro na Secom, o que impede de receber qualquer anúncio federal.

Com a ausência de um secretário de imprensa - não se trata de porta-voz, missão impossível tratando-se de Bolsonaro - não há a alimentação estratégica de notícias do governo e nem a coordenação das equipes  de comunicação dos ministérios e autarquias. Cada um fala por si, e há casos de estruturas de comunicação de algumas pastas serem muito maiores do que toda a Presidência da República e a própria Secom.

Enquanto a regulamentação da mídia vira pauta prioritária da campanha de Lula, continuam as caças às bruxas de qualquer manifestação que seja positiva para Bolsonaro, exatamente o presidente acusado de ser genocida, ditador, nazista e outros rótulos impostos pelos veículos que lhe fazem oposição a partir da campanha eleitoral  e depois do seu governo. Estes veículos sempre tiveram liberdade de falar o que quiseram.

Os excessos cometidos por esta mídia de oposição têm efeito bumerangue. A TV Record já superou a Globo em credibilidade jornalística segundo pesquisa internacional, e jornais 100% oposicionistas   perdem  leitores para aqueles que mostram apenas os fatos que eles escondem. A ousadia maior de Bolsonaro é dizer que só renovará as concessões da Globo que vencem em outubro de 2022 se ela estiver com toda documentação em ordem. Não é uma ameaça, trata-se de cumprir apenas o que a lei determina, e mesmo assim depende da chancela do Congresso. O grande perigo para a sociedade e para a própria democracia é começarmos a achar normal o ressurgimento da censura e a punição de jornalistas que expressem seu ponto de vista. Aceitar que isso seja visto com normalidade é extremamente perigoso. Cadê os guardiões da democracia que estão em um assustador silêncio?

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.