Atlético-MG busca novas receitas para continuar protagonista

Por: Carlos Petrocilo

Sérgio Batista Coelho tinha 11 anos quando o Atlético-MG obteve o seu primeiro título do Campeonato Brasileiro, em dezembro de 1971.

Criança, o mineiro de Crucilândia (110 km de Belo Horizonte) seguia com o pai rumo ao Mineirão nos finais de semana para ver a equipe alvinegra jogar.

Foram 50 anos na expectativa de outra conquista do Nacional. E coube a ele o papel de assumir a presidência do Atlético-MG na temporada em que o clube encerrou a espera de meio século.

"Esse jejum criava uma ansiedade muito grande. Tínhamos um peso nas costas e agora estamos mais leves. A torcida está em alto astral, e tudo isso é muito importante para a conquista de outros títulos", afirmou Coelho em entrevista à reportagem.

Em comemoração ao bicampeonato, ele tatuou a figura de um galo, mascote do time. Gesto feito inicialmente por Rubens Menin, dono da MRV e um dos mais engajados mecenas da agremiação.

Passada a euforia pela conquista da tríplice coroa na temporada de 2021 –a equipe foi campeã do Estadual, da Copa do Brasil e do Brasileiro, algo que só o rival Cruzeiro havia conseguido–, o cartola diz que o desafio do Atlético-MG é continuar no papel de protagonista para acertar suas dívidas e alavancar as receitas.

"Quando se tem um time protagonista, organizado, os torcedores e os patrocinadores passam a confiar, e o faturamento tende a se multiplicar por duas, três vezes. Tivemos essa experiência em 2021", afirmou Coelho.

Para o ano de 2022, o clube pretende atingir uma receita bruta de R$ 822 milhões, de acordo com o orçamento aprovado em assembleia do conselho deliberativo no dia 22 de dezembro –o documento passou por uma análise pela empresa de consultoria e auditoria EY antes da votação.

O valor é o dobro do orçamento para a temporada de 2021, R$ 401 milhões na ocasião.
No plano para atingir essa meta (R$ 822 milhões), a diretoria pretende receber R$ 350 milhões com a venda da sua participação (49,9% das ações) no shopping Diamond Mall, administrado pela rede Multiplan.

Desconsiderando o impacto com a possível negociação de um patrimônio, o orçamento no futebol é ainda R$ 70 milhões maior no futebol para 2022 –R$ 447 milhões ante R$ 377 milhões previstos em 2021. Há a expectativa de reforçar o caixa com uma temporada completa com público nos estádios, as premiações e os direitos de televisão.

Os gastos com folha de pagamento e direitos de imagem, entre outros, chegarão a R$ 231 milhões anuais em 2022. A quantia reservada para cobrir essas despesas em 2021 foi de R$ 172 milhões.

A boa fase, na visão dos administradores do clube, abastecerá o caixa. Como a Folha mostrou em setembro, a geração de receitas do Atlético-MG está bem abaixo daquela registrada por seus principais concorrentes, Flamengo e Palmeiras.

"Não quero fazer comparações com outros clubes, quero falar do Atlético. É preciso ter um time protagonista, e, a partir disso, conseguimos multiplicar o faturamento", diz o cartola.

"Renovamos no final do ano o contrato com o patrocinador master [Betano, site de apostas] por um valor três vezes maior do que foi acordado no começo da temporada."

A diretoria não informa o valor desse acordo com a Betano. Porém, conforme mostra o relatório do Itaú BBA com base nos balanços contábeis de 2020 (os de 2021 ainda deverão ser publicados), o Atlético embolsou R$ 21 milhões com patrocínios e publicidade, enquanto o arquirrival Cruzeiro, mantido na Série B do Brasileiro, abocanhou R$ 33 milhões.

Um dos saltos esperados pelos dirigentes ficará para 2023. Está prevista para maio do ano que vem a inauguração da Arena MRV, com a expectativa de geração de R$ 100 milhões a mais por ano com a sua locação para eventos culturais e corporativos, além do "matchday" (somatória de receitas de bilheteria, sócio-torcedor, comercialização de camarotes e venda de produtos do clube, alimentos e bebidas).

"O time, quando tem o seu próprio campo, ganha muito tecnicamente. E a parte financeira é importante. Além das receitas, não vamos precisar pagar aluguel, que é caro [entre 15% e 25% da renda com a bilheteria na partida], para jogar", afirma o presidente.

Coelho não tem receio de dizer que só aceitou o desafio de presidir a equipe, com um passivo de R$ 1,2 bilhão, com a promessa de que teria apoio dos 4 R's. É assim que são chamados os empresários Rafael Menin e Rubens Menin (da construtora MRV), Renato Salvador (da rede de saúde Mater Dei) e Ricardo Guimarães (do banco BMG).

O quarteto lidera uma rede de apaixonados que emprestam dinheiro ao clube para sanar as finanças e reforçar o elenco com contratações.

"O que me ajudou na gestão do clube foram as pessoas que me convidaram, conhecidas como 4 R's. Eles queriam ajudar o Atlético, mas com uma pessoa [na presidência] que falasse a mesma língua. Eu tinha essa característica e com a minha experiência pude ajudar", diz o cartola.

Em troca do pedido feito pelos mecenas, o dirigente exigiu a criação de um órgão colegiado que reúne os quatro empresários, Coelho e o seu vice, José Murilo Procópio. Segundo ele, não há nenhuma possibilidade de ingerência na administração da equipe.

"Eu não poderia desprezar a capacidade, a inteligência e o conhecimento dessas pessoas, que são donas, gestoras de algumas das maiores empresas do Brasil", explica o dirigente.

Presente no dia a dia do clube, com apreço por acompanhar as atividades do futebol, Coelho elogia Cuca, que se despediu após a conquista do Brasileiro, mas reluta em apontá-lo como o principal técnico da história do clube.

"É um dos maiores treinadores que o Atlético já teve. Não vou dizer que é o maior, está entre os maiores."

Coelho faz o possível para evitar declarações polêmicas e adota esse tom sobre o arquirrival. Questionado pela reportagem sobre o fato de Ronaldo ter assumido o Cruzeiro, ele se esquiva.

"Como presidente do Atlético, tenho tantas coisas para resolver... Quanto aos outros clubes, não é adequado fazer comentários, até mesmo porque não conheço o contrato entre eles, não sei quais são as cláusulas, as formas de pagamento", diz o presidente alvinegro, firme mesmo diante da insistência da reportagem: "Prefiro não falar nada".