FIA detalha como será investigação sobre as polêmicas do GP de Abu Dhabi

Por: Julianne Cesaroli

A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) explicou como está sendo o processo, iniciado na última segunda-feira (10), de análise da tomada de decisões das últimas voltas do Grande Prêmio de Abu Dhabi da última temporada, vencido por Max Verstappen.

O holandês conquistou o título ao ultrapassar Lewis Hamilton na última volta, o que gerou polêmica devido à decisão do diretor de prova, Michael Masi, de permitir que os retardatários que estavam entre os dois pilotos recuperassem a volta perdida durante um período de Safety Car.

Apenas os cinco pilotos que estavam entre os rivais puderam fazer isso, em um processo que não havia sido utilizado antes e que, embora não esteja fora do regulamento, foi muito questionado porque fere outro artigo que também está nas regras.

Esta investigação da FIA foi importante para que a Mercedes desistisse de seguir adiante com um pedido de revisão da prova, que poderia deixar o campeonato sub judice. Tudo isso aconteceu em meados de dezembro, mas, devido às férias, o assunto só foi retomado agora.

Trata-se de uma das primeiras ações do novo presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, eleito recentemente. Em comunicado, a entidade informou que o presidente "deu início a uma consulta com todas as equipes de F1 a respeito de vários temas, incluindo este" e o primeiro passo será a discussão das regras de Safety Car pela comissão de consultoria esportiva, dia 19 de janeiro. A questão será discutida, logo em seguida, com todos os pilotos.

O próximo passo é divulgar o resultado destas consultas ao conselho da F1, que se reúne dia 3 de fevereiro, e as decisões finais serão tomadas na reunião do conselho mundial, dia 18 de março, ou seja, dois dias antes do primeiro GP da temporada, no Bahrein.

Esse calendário enfraquece a teoria, publicada nesta semana pela BBC, de que Hamilton só decidiria se vai ou não continuar na Fórmula 1 depois de saber qual é o resultado da análise.
O inglês optou por manter o silêncio após a prova, e inclusive o novo presidente da FIA afirmou que o heptacampeão ainda "não está pronto" para decidir se fica ou não na categoria, após entrar em contato com ele.

A maneira como essa discussão foi colocada pela FIA, no entanto, aponta mais para uma revisão do regulamento em si do que qualquer tipo de caça às bruxas para identificar culpados pelo ocorrido em Abu Dhabi.

Mas o comunicado da entidade fala ainda em outro processo, liderado pelo novo diretor de monopostos, Peter Bayer: "O presidente pediu para que ele faça uma revisão e otimize a organização da estrutura da FIA na F1 para 2022".

Bayer era o secretário-geral de automobilismo, ou seja, tinha uma posição acima da atual na gestão de Jean Todt, que se encerrou em dezembro. E a mudança para este cargo nos monopostos chamou a atenção quando o novo organograma da FIA foi divulgado, uma vez que o nome dele aparece substituindo os de Nicholas Tombazis e do próprio Michael Masi.
Isso, no entanto, não significa que o grego e o australiano não fazem mais parte da FIA.

Essa reorganização da presença da FIA na F1, na verdade, pode não ter relação direta com os eventos de Abu Dhabi. Isso porque depois de apostar em ter um braço técnico em sua gestão, chefiado por Ross Brawn e com nomes famosos no esporte como Pat Symonds, a Liberty Media, que detém os direitos comerciais da F1, está deixando essa parte de lado.

Há décadas a F1 vinha sendo gerida por meio de uma divisão entre a parte comercial -que ficava com Bernie Ecclestone e hoje é responsabilidade da Liberty- e a parte regulatória e técnica, o papel da FIA.

Este papel vinha sendo ameaçado nos últimos anos com o crescimento do tal departamento técnico da Liberty, mas este cenário está mudando com a aposentadoria de Symonds e a possível saída (ou mudança de cargo) de Brawn, ainda não confirmada.

Já a questão do regulamento que gerou tanta confusão em Abu Dhabi é a seguinte: cabe ao diretor de prova decidir quando o Safety Car retorna aos boxes e sob quais condições isso vai ocorrer. No entanto, há um artigo que especifica a maneira como isso será feito.

Esse item das regras não foi seguido em sua totalidade por Masi na corrida que decidiu o título, o que motivou a reclamação da Mercedes. Pela regra, ou todos os carros poderiam descontar a volta que levaram dos líderes, ou nenhum deles poderia. E, se todos ultrapassassem o líder, era preciso esperar a volta seguinte para reiniciar a prova.

Ou seja, ainda que Masi não tenha seguido este artigo ao permitir que apenas cinco carros recuperassem a volta e ao reiniciar a prova logo em seguida, um outro artigo garantia a ele esse direito.

Ao menos está claro que o regulamento não pode continuar com essa brecha, uma vez que as equipes definem suas estratégias de prova de acordo com as possibilidades cobertas pelas regras.