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Próxima dos 30, Ana Marcela quer medalha que falta por carreira completa

Por: Klaus Richmond

A nadadora Ana Marcela Cunha conta que poucas coisas mudaram desde 3 de agosto do último ano, data em que pôs fim a uma incômoda sina em Olimpíadas.

A medalha de ouro conquistada nos Jogos de Tóquio lhe tirou um peso das costas e trouxe o reconhecimento que jamais esperou viver desde o início da trajetória profissional, aos 12 anos de idade.

Agora, próxima de completar 30 (faz aniversário no dia 23 de março), mesmo a conquista olímpica, somada ao ouro no Pan de Lima em 2019 e aos 12 pódios em campeonatos mundiais, além do recente título de melhor do mundo em maratonas aquáticas, o sétimo de sua carreira, ainda não saciaram a atleta.

Incomoda a Ana Marcela o fato de não ter vencido nenhuma vez a prova de 10 km do Mundial, considerada a distância mais tradicional da modalidade.

"Digo que muitas coisas mudaram, mas, ao mesmo tempo, que nada mudou em mim desde Tóquio. Veio um reconhecimento, sim. Sinto um carinho diferente das crianças e das pessoas, mas, como atleta, também penso que me falta algo. Sou campeã mundial, campeã olímpica, mas não tenho o título dos 10 km", diz em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Nessa distância, Ana Marcela foi prata em Barcelona, em 2013, e bronze em Kazan e Budapeste, em 2015 e 2017, respectivamente. A capital húngara, por sinal, foi escolhida pela Fina (Federação Internacional de Natação) em fevereiro como sede da próxima edição da competição, entre 18 de junho e 3 de julho.

"Essa pimenta [pela conquista inédita] o Fernando [Possenti, treinador] usa e me provoca todos os dias. Ele é um cara que sabe fazer isso sem ser agressivo ou pesado. São provocações sutis, mas bem estimulantes", explica.

"E tem uma coisa: eu também me comparo muito, é inevitável. Apesar de estar mais velha, me cobro quando faço alguma série abaixo do que já fiz em algum momento, mesmo bem mais jovem", completa.

A idade, até aqui, ela enxerga somente como um número. Não há nenhum sinal em treinamentos ou competições que acusem queda de desempenho desde Tóquio, diz a atleta.

Ana Marcela tem a carreira marcada pela precocidade. Aprendeu a nadar com dois anos e competiu pela primeira vez aos seis. Integra a seleção desde os 14. Em 2008, aos 16 anos, foi a mais jovem integrante da delegação de 277 atletas - 132 mulheres e 154 homens - nos Jogos de Pequim.

"Sou privilegiada por ter conquistado quase tudo antes dos trinta. Olho para caras como o Nicholas [Santos], que tem 42 anos, e penso: é possível muito mais. Não penso que meu corpo está mais velho, que o meu corpo está mais lento. Continuo tendo excelentes resultados, esse é o meu parâmetro", explica.

A preocupação, agora, é justamente não perder a sequência vitoriosa. Menos de 24 horas após a maior conquista da carreira, ainda em solo japonês, ela confessou ao pai, George Cunha, que teria pouco tempo para comemorações porque havia programado treinos e importantes reuniões para traçar as primeiras ações de olho em Paris-2024.

Já para este ano tem em seu roteiro uma nova passagem por Sierra Nevada, na região de Granada, ao sul da Espanha, para treinamento na altitude. Ela ainda deve competir novamente em etapas dos campeonatos Espanhol e Francês, além do circuito mundial de maratonas aquáticas.

Os olhares de Ana Marcela Cunha estão voltados para Paris-2024, mas a carreira pode se estender para mais um ciclo olímpico. A continuidade de Fernando Possenti para 2028 será determinante na decisão.

"Vou ser muito sincera: olho para os ciclos. Se o Fernando continuar, me sinto muito confiante em tentar mais porque confio muito no trabalho dele. Há um respeito, carinho e admiração enorme entre nós", diz.

Possenti e Ana Marcela se conheceram em 2013, quando a atleta trocou a Unisanta pelo Sesi. Depois, voltaram a reeditar a parceria em 2017. São constantes os incentivos para que a nadadora possa seguir a carreira como técnica quando optar por parar.

"Ele, muitas vezes, me deixa montar os treinos e brinca que jamais seria meu atleta, pois não alivio nem para mim mesma. Me prometeu dar o relógio dele se eu aceitar", conta.

Ana Marcela vê a empreitada como um desafio possível, porém ainda distante. "Quero ler, entender e estudar muito se for fazer isso mesmo. Sou formada [em educação física] e tenho muita vontade de trabalhar na borda da piscina, mas tenho receio de não saber explicar e passar. Há uma distância até isso e muita lenha para queimar dentro da piscina."

Em dezembro, ela renovou contrato com a Unisanta até os Jogos de Paris. No último dia 10, a universidade apresentou 12 novos nadadores, como Guilherme Costa, finalista dos 800 m livre em Tóquio, e Guilherme Bassetto, do revezamento 4 x 100 medley misto.

A equipe já conta com nomes como Victor Colonese, medalhista de bronze no Pan de Lima, Nicholas Santos, bicampeão mundial em piscinas curtas, e Leo de Deus, finalista olímpico nos 200 m borboleta.

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