Um vírus detém os Jogos?

Por Vicente Dattoli, especial para o Correio da Manhã

O coronavírus continua a fazer estragos. Estragos em todas as áreas: o turismo caiu, a atividade econômica está parando, hospitais cada vez mais cheios... Claro que o esporte não ficaria fora desta escalada de problemas. Várias competições foram adiadas ou canceladas.

Um pré-olímpico feminino de basquete, marcado para a China, mudou de lugar. O grande prêmio de Fórmula da China, até agora, adiado – mas pode ser cancelado. O mesmo acontece com a corrida no Vietnã (que seria a primeira naquele país). Nesta semana, um evento-teste de rugby em cadeira de rodas foi cancelado no Japão.

Estudam-se práticas para evitar aglomerações durante provas de rua nos Jogos Olímpicos, como a maratona (que não será mais em Tóquio).

Mas é só isso? Claro que não. Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 correm, sim, o risco de serem cancelados. Não é alarmismo. E o Comitê Olímpico Internacional joga com o tempo – tempo, tempo, dos minutos, horas e dias até a data prevista para seu início oficial (24 de julho) – e com o tempo “estações do ano”, contando com a chegada do verão no hemisfério Norte.

Sempre que há uma grande competição esportiva são feitos diversos seguros. Contra catástrofes naturais, por exemplo. Até problemas políticos costumam ser previstos (daí não se imaginar uma Olimpíada, por exemplo, em países conturbados politicamente).

Nova preocupação

Mas uma epidemia é uma nova preocupação. Como imaginar um evento que movimenta 200 países, com diversos “sub-eventos” acontecendo paralelamente, sendo cancelado?

Sem falar que a televisão já vendeu (e recebeu) milhões de dólares das empresas pela publicidade e separou horários em satélites e nas suas programações para exibir os recordes que certamente serão batidos.

Escrito assim, parece algo fácil, mas adiar uma semana, um mês, não parece nada drástico. Mas é. Milhares de voos estão lotados por conta dos Jogos Olímpicos; hotéis estão recusando pedidos de reservas por falta de quartos.

Restaurantes se mobilizam para atender os milhares de turistas, de todo o mundo, que estarão no Japão em julho/ agosto (temos a Paraolimpíada, a seguir).

Como adiar ou cancelar? Até hoje, apenas as duas guerras mundiais foram capazes de interromper os Jogos Olímpicos. Cogitaram realizar competições sem a presença de público, o que seria uma loucura. Além de os ingressos já estarem vendidos (só para a população japonesa houve procura superior a dois bilhões de tíquetes), como imaginar arquibancadas vazias nos estádios, ginásios ou parque aquáticos? Na Europa, algumas partidas de futebol têm sido realizadas assim. E é triste. Um contraponto ao chamado “espírito olímpico”.

O Comitê Olímpico Internacional vai esperar até o último instante, rezando pelos avanços da medicina, para dizer que sempre confiou na realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Reafirmando, ainda, que o espírito olímpico a tudo supera, inclusive a uma possível pandemia.

Um pouco de história

Esta será a segunda Olimpíada (de verão) no Japão – Jogos Olímpicos de Inverno já tivemos dois, em 1972 (Sapporo) e 1998 (Nagano). A segunda em Tóquio e poderia ser a terceira. Em 1940 estava programada uma edição dos Jogos Olímpicos para a capital japonesa. Não aconteceu em função da II Guerra Mundial. Foi, então, oficialmente, a segunda vez que uma Olimpíada deixou de ser realizada - a a primeira foi em 1916, quando se esperavam os Jogos Olímpicos de Berlim. Impedidos pela I Guerra Mundial. 

Falando de esportes, Tóquio costuma ser inovadora. Em 1964, quando aconteceram, até agora, os únicos Jogos Olímpicos naquela cidade, tivemos a estreia do judô e do vôlei – esportes que costumam dar muitas alegrias para o Brasil.

Este ano, teremos surfe (onde somos francos favoritos), skate e escalada. Novidades para movimentar uma Olimpíada que promete.