O Brasil sente falta de Ayrton Senna

Por: Pedro Sobreiro

Há exatos 26 anos, um dos maiores ícones do esporte brasileiro falecia na curva Tamburello, no GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Ayrton Senna foi e ainda é referência para diversos pilotos no mundo do automobilismo, como o atual campeão da Fórmula-1 Lewis Hamilton, que nunca escondeu sua admiração pelo brasileiro e a importância que ele teve na hora do pequeno Hamilton escolher sua profissão.

Muitos de seus recordes permanecem intocados até hoje. Ayrton foi o último brasileiro a ser campeão mundial de F-1, categoria que, hoje, não conta com nenhum brasileiro no grid. Ele também é dono do recorde de mais pole positions consecutivas, com 8 poles em sequência entre o GP da Espanha de 1988 e o dos EUA, em 1989. Senna também detém um recorde praticamente insuperável, que é o de piloto que mais vezes largou na primeira fila de uma corrida (pole ou segunda posição). Entre o GP da Alemanha de 1988 e o da Austrália de 1989, Ayrton largou na primeira fila em 24 Grand Prix seguidos. Senna ostenta esse recorde há mais de 30 anos, e a primeira vez que chegou perto de ser ameaçado foi entre 2014 e 2015, quando Lewis Hamilton conseguiu largar na primeira fila por 20 vezes seguidas. O “Rei de Mônaco” conseguiu esse título após ser o único piloto na história a conseguir vencer o circuito do principado de Mônaco por seis vezes. Michael Schumacher teve a chance de superar Senna, mas encerrou a carreira com “apenas” cinco vitórias. Atualmente, quem pode ameaçar o record de mais de 30 anos de Senna é o britânico Lewis Hamilton, que tem três vitórias no circuito e ainda deve render muito na Fórmula-1.

Outro legado de Senna para o esporte foram uma série de medidas de segurança para os pilotos, como a alteração de curvas, versões redesenhadas dos cockpit dos pilotos para garantir mais proteção a eles e a implantação de novas barreiras de proteção. Depois de Ayrton Senna, o único piloto da Fórmula-1 a morrer em um acidente foi o francês Jules Bianchi, que, em outubro de 2014, se chocou contra um trator, no GP de Suzuka, no Japão, e ficou internado em estado vegetativo até falecer em julho de 2015.

Mas provavelmente o maior legado que Senna deixou foi a chama de esperança no coração de milhões de brasileiros. Em entrevista ao jornalista João Dória, Ayrton Senna disse que: “Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá”.

Pode parecer algo simples, mas quando Senna começa a ganhar os holofotes internacionais, o Brasil está saindo da catastrófica Ditadura Militar, que além dos diversos crimes cometidos contra a humanidade, sucateou as escolas públicas e deixou o país em situação econômica miserável. E como a seleção brasileira vinha acumulando uma série de vexames nas Copas do Mundo, o povo começa a adotar Ayrton Senna como uma forma de escapar da realidade de derrotas. Era um brasileiro que se orgulhava de ser brasileiro. Então, nas manhãs de domingo, o país acordava cedo para ter do que se orgulhar.

O capacete ostentando as cores da bandeira e o gesto de carregar uma bandeira do Brasil na comemoração de cada vitória faziam o povo acreditar no futuro, sentir que havia como mudar o país para algo bom. Mas como fazer isso? É aí que voltamos à citação de Senna. “Tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá”. Senna era sedento pela vitória e não se contentava enquanto não atingisse a perfeição. Em uma época na qual o Brasil era conhecido pelo “atitudes liberais” do carnaval, por assim dizer, e pelas riquezas naturais, o mundo – e o brasileiro – percebem que vale a pena ser esforçado, que a genialidade pode, sim, surgir no Brasil.

Dono de muita ousadia dentro das pistas e muita humildade fora delas, Senna foi um farol que usou o esporte para manter a esperança e guiar o brasileiro rumo a dias melhores.