As memórias da ‘Moça do Flamengo’

Por Pedro Sobreiro

O jornalismo esportivo vive dias de mudança. Considerado um ambiente machista e excludente, as coberturas esportivas estão abrindo cada vez mais espaço para a entrada de mulheres, sejam elas repórteres, produtoras, comentaristas, apresentadoras e narradoras.

É um processo demorado, que ainda conta com muita resistência por parte do público, mas que, em breve, deve estar proporcionando cada vez mais a igualdade de gênero no meio esportivo.

Um passo dado foi a primeira transmissão gratuita da Copa do Mundo Feminina de Futebol 2019, disputada na França, feita praticamente só por mulheres. Foi um grande avanço não só na inclusão de mulheres no jornalismo esportivo, mas também deu uma visibilidade quase inédita para o futebol feminino no Brasil.

Essa boa fase para a inclusão começou com uma jovem torcedora do Flamengo, que, por conta de seu fanatismo pelo clube, viria a ser a primeira repórter de
campo da história do Brasil. Sua trajetória singular está no livro “A moça do Flamengo” (Ed. Approach), de sua autoria, já nas livrarias.

Marilene Dabus viu sua paixão pelo futebol começar graças ao tio Caxambu, campeão pelo Flamengo em 1939, e com passagem pelo Palmeiras. Ele tinha muitas imagens e fotografias do meio esportivo e ela ficava fascinada ao folhsear os álbuns do irmão de sua mãe. Fora isso, tinha um grupo de amigos formado por vários jornalistas esportivos, então o assunto “futebol” estava sempre em alta.

TORCIDA NA TV
Seu primeiro passo para ganhar atenção da mídia veio de um convite para participar do programa “Dança com o Vencedor”, da TV Tupi. Ela respondeu várias perguntas sobre o Flamengo e passou a participar cada vez mais dos programas. A torcida do rubro-negro da Gávea abraçou a menina e passou a ir para o programa torcer por ela. Rapidamente, a menina da Zona Sul passou a ser reconhecida nas ruas, e o apelido Moça do Flamengo, cada vez mais usado pelos fãs, pegou.

Em 1969, sua estreia no jornalismo veio também por um convite. Ela foi chamada para fazer uma coluna no jornal “Última Hora”. A coluna rendeu e trouxe elogios, principalmente do público feminino, que se sentiu mais motivado a acompanhar e frequentar os estádios em dias de jogo.

Marilene acabou ficando famosa por suas entrevistas exclusivas dentro e fora de campo. Em seu segundo dia de trabalho no “Última Hora”, a repórter emplacou uma matéria de capa ao conseguir uma entrevista exclusiva com Pelé um ano antes da histórica conquista da Copa do Mundo de 1970, no México.

Sua ligação com o Flamengo a transformou em personagem histórica do clube. Foi assessora de imprensa na época mais vitoriosa do clube da Gávea e acompanhou de perto toda a trajetória de Zico, o maior ídolo rubro-negro.

Sua parceria com Márcio Braga foi muito comemorada, já que ela fez uma revolução no processo de profissionalização da assessoria flamenguista. Seus serviços para o clube renderam uma homenagem em 2009, quando a sala de imprensa do Flamengo foi batizada com seu nome.