Da euforia à Série B, o drama em tons de azul

Por: Pedro Sobreiro

O Campeonato Brasileiro de 2019 terminou com dois times nunca antes rebaixados na história da Série A: Chapecoense e Cruzeiro. O caso mais chocante foi realmente o do Cruzeiro, que até então havia participado de todas as campanhas da Série A desde a criação do Campeonato Brasileiro, enquanto a Chapecoense só conseguiu seu primeiro acesso à elite do futebol nacional em 2013.

A diretoria cruzeirense começou o ano em alta. Com um elenco entrosado, ainda na ressaca da vitória na Copa do Brasil de 2018, o time logo conquistou o Campeonato Mineiro e o hit “Piscininha Amor”, criado pelo lateral-esquerdo Egídio e viralizado pelo atacante Fred, que logo foi apelidado de “Rei dos Stories”. A música mostrava um elenco unido, além de ser tecnicamente forte. Não à toa o Cruzeiro chegou a ser o melhor time da primeira fase da Copa Libertadores, mas caiu diante do River Plate nas oitavas de final. Dias depois, cairia nas semifinais da Copa do Brasil, eliminação que custou o emprego do treinador Mano Menezes.

Até então, o Brasileiro não era prioridade. Sem o dinheiro das premiações das duas copas, a direção teve dificuldades para fechar o ano financeiro e cobrir os elevados gastos.
A crise econômica ficou insolúvel e deixou o clima insustentável nos bastidores. Com meses de salários atrasados e a queda de rendimento do elenco, a gestão de Wagner Pires de Sá começou a viver seus piores dias. Como se não bastasse, o time chegou a ser cobrado pelos mais de R$ 700 milhões em dívidas e com a constante mudança de técnicos, o Cruzeiro ainda contou com um racha no elenco para complicar a situação.

Porém, se esse final de ano parece ruim, 2020 pode ser ainda pior. As dívidas cruzeirenses seguem crescendo e o elenco atual é muito caro. Com a queda para a Série B, o clube perde o contrato das cotas de TV. Até 2018, o time que fosse rebaixado contava com um mecanismo que impedia a redução das cotas. Ele acabou em 2019. E se não fosse o suficiente, a diretoria adiantou R$70 milhões referentes as cotas até 2022. A queda já fez o clube perder de cara cerca de R$11 milhões.

As opções para os mineiros são escolher entre a cota igualitária da Série B de R$8 milhões ou fechar apenas com o Pay Per View da Globo, que cede valores referentes a venda dos pacotes de jogos e pode chegar até a R$ 45 milhões, valor que pagaria apenas a folha salarial do elenco em 2019. Enquanto isso, as dívidas seguem crescendo.
A vida dos times rebaixados está cada vez mais difícil. O planejamento e a profissionalização das diretorias são uma necessidade para o futebol brasileiro. Quem cair não vai ter moleza e vai acabar fazendo dívidas colossais apenas para manter a instituição viva.

O Cruzeiro já busca um empréstimo de R$300 milhões para o ano que vem. Dessa forma, a conta não vai fechar nunca. Enquanto a estabilidade financeira não for uma prioridade no futebol, não adianta chorar as glórias dos adversários organizados. Não é sorte, é trabalho e planejamento.