Por:

Doria suspende futebol em SP à revelia de clubes e federação

Bruno Rodrigues, Carlos Petrocilo e João Gabriel (Folhapress)

Antes mesmo da entrevista coletiva do governador João Doria (PSDB), no início da tarde, a FPF (Federação Paulista de Futebol) já havia sido avisada pelo secretário do Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, que as atividades esportivas seriam paralisadas do dia 15 ao 30 -após esse período, uma nova avaliação será feita para uma retomada ou não. Com isso, a rodada deste final de semana está mantida. Às 15h, O presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos, vai se reunir com dirigentes de clubes por videoconferência para dar mais detalhes.

"Há equipes em diferentes modalidades esportivas, e não só no futebol, que já se deslocaram [para SP], e outras que compraram diárias em hoteis e se organizaram para isso. Uma medida feita para aplicação em 24 horas traria uma conturbação gigantesca", disse Doria na coletiva ao ser questionado pela manutenção das competições ainda neste final de semana.

A decisão de suspender o Campeonato Paulista e as demais atividades do esporte já era considerada pelo governo desde terça-feira (9). Quando soube, Bastos tentou articular uma reviravolta. O deputado estadual Delegado Olim (PP) foi um dos encarregados de tentar convencer a gestão Doria pela manutenção dos jogos. Sem sucesso. Desde terça, com a iminente paralisação das atividades esportivas, equipes e federação reclamam não ter havido diálogo com o setor, que garante ter protocolos sanitários seguros. "Não há qualquer argumento científico que sustente a tese de que o futebol profissional gere aumento no número de casos. Pelo contrário, o futebol possui um protocolo extremamente rigoroso, com acompanhamento médico diário e testagem em massa de seus profissionais. Uma eventual paralisação seria ainda mais prejudicial ao combate à Covid-19, pois deixaria expostos milhares de atletas, que não mais passariam a ter o controle médico diário e de testagem que o futebol oferece", afirmou a FPF na terça, em nota.

Contrários à paralisação, os clubes contestam a medida adotada pelo governo sob a justificativa de que, ao suspender jogos e treinos e, consequentemente, as concentrações, eles perdem capacidade de monitorar seus atletas, que passam constantemente por testes de Covid-19 e avaliações clínicas no dia a dia dos centros de treinamento.
Na quarta (10), antes da coletiva de Doria -na qual havia a expectativa de uma série de novas restrições no estado- houve uma reunião entre Reinaldo Bastos, seu vice Mauro Silva e os secretários estaduais Vinholi e Patricia Ellen (Desenvolvimento Econômico). O anúncio do governo de São Paulo, esperado então para aquela tarde de quarta, acabou não acontecendo.

No mesmo dia, uma reunião virtual do presidente da CBF, Rogério Caboclo, com clubes das Séries A, B, C e D -cerca de 60 participantes entre presidentes e outros representantes- teve como resultado a escolha da maioria pela continuidade do futebol. Com o recrudescimento da pandemia, as atividades esportivas entraram na mira do procurador-geral de Justiça do estado de São Paulo, Mario Sarrubbo, que recomendou a Doria, na última terça, a suspensão de todo o esporte profissional e de cultos religiosos.

"Estamos trabalhando como viabilizar medidas que possam de fato aumentar o isolamento social. Em relação às recomendações, elas podem fazer parte de uma série de medidas que vão se somar ao que nós já temos hoje. O governo vai anunciar assim que for conveniente", afirmou Paulo Menezes, do Centro de Contingência do governo paulista durante a coletiva de quarta-feira, ao ser questionado sobre a recomendação do Ministério Público.

Se a expectativa do anúncio na quarta acabou não se concretizando, Doria encerrou a coletiva avisando que, no dia seguinte, traria grandes mudanças ao Plano SP -as diretrizes que regulamentam a quarentena no estado. Nesta quinta, suspendeu o futebol e anunciou o que classificou como "fase de emergência".
Levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostrou que apenas 2 dos 40 clubes da Séries A e B do Brasileiro são a favor da paralisação total do calendário neste momento: Chapecoense e Brasil de Pelotas.

Na semana passada, o presidente santista Andrés Rueda afirmou em entrevista ser favorável a uma pausa no futebol. "Com dor no coração, a situação está nos assustando muito, estamos perdendo a sensibilidade, falamos de vidas que não têm sentido de serem perdidas. Qualquer medida para salvar uma vida vale", afirmou o mandatário santista, questionado pela Folha de S.Paulo sobre defender ou não a manutenção das competições.

Atualmente, o estado abriga a disputa do Campeonato Paulista. Também há times de São Paulo na Copa do Brasil, como o Mirassol, que no próximo dia 18 tem compromisso marcado para receber o Red Bull Bragantino, e o Marília, que no dia 17 enfrenta o Criciúma, em casa, pela competição nacional. Times como o Corinthians e a Ponte Preta também disputam a Copa do Brasil, mas têm jogos agendados para fora do estado. A CBF disse que as partidas já marcadas para o território paulista serão transferidas para outros estados onde possa haver a disputa.

Essa seria a segunda suspensão do futebol em São Paulo. A primeira aconteceu no dia 16 de março de 2020 e durou até o final de julho. No último dia 3, São Paulo havia entrado na fase vermelha da quarentena, na qual só os serviços essenciais têm autorização para funcionar. No entanto, naquele momento, o futebol não recebeu novas restrições e seguiu com seu calendário.

OUTROS ESPORTES

A suspensão também atingirá a fase de quartas de final das Superligas masculina e feminina de vôlei, marcadas para começar nesta quinta. Procurada pela reportagem, a CBV não respondeu até a publicação deste texto quais medidas tomará em relação às competições.

Para a disputa do NBB, organizado pela Liga Nacional de Basquete, está sendo realizada uma "bolha", com os jogos concentrados no complexo esportivo do estádio do Morumbi e no ginásio do clube Paulistano, ambos na capital paulista. A disputa atualmente está no segundo turno, na 16ª rodada de um total de 19. As três últimas estão marcadas para o período de restrição, entre 15 e 30 de março. Questionada, a Liga Nacional de Basquete não informou se os jogos serão deslocados para outro estado ou adiados em razão da proibição dos esportes em São Paulo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.