Red Bull Bragantino contrata jovens e mira Sul-Americana de 2021

Por Alex Sabino (Folhapress)

Executivo do time que desde 1º de janeiro se chama Red Bull Bragantino, Tiago Scuro perdeu a paciência quando a Ponte Preta informou no ano passado que o Cruzeiro havia feito uma proposta pelo meia Claudinho. "O máximo que vocês vão nos fazer é gastar mais dinheiro", desafiou o CEO.

A equipe de Bragança Paulista tinha a preferência para continuar com o jogador, emprestado pelos campineiros. Pagou R$ 2 milhões e exerceu a prioridade para mantê-lo no elenco. Com a frase, Scuro quis mostrar que por valor nenhum o clube seria intimidado ou desistiria do negócio.

Claudinho foi o melhor jogador da última Série B e uma das principais peças no acesso do Red Bull Bragantino à elite do país em 2020.

Até o ano passado, o clube ainda era chamado apenas de Bragantino, mas já contava com investimentos da empresa austríaca de bebidas energéticas. Neste ano, a marca passou a controlar o futebol da agremiação do interior paulista.

No orçamento e planejamento para 2020 acertado com a multinacional, foi considerada que a meta factível para o Red Bull Bragantino nesta temporada é obter a classificação para a Copa Sul-Americana de 2021. No Brasileiro do ano passado, ficaram com vaga no torneio os times que terminaram do 9º ao 14º lugar.

Seria o primeiro passo da evolução continental na América de uma empresa que possui clubes no mata-mata da Champions League (o alemão RB Leipzig) e da Liga Europa (o austríaco Red Bull Salzburg).

Além da montagem da equipe, os planos do projeto são reformar o estádio Nabi Abi Chedid e construir um novo centro de treinamento em Bragança Paulista.

Nas reuniões de Scuro com representantes da matriz ficou determinado que o perfil dos reforços para esta temporada será o mesmo adotado pelas outras equipes da empresa: nomes jovens que possam se adaptar a um estilo de jogo pré-definido: com pressão na saída de bola do adversário, toques curtos e velocidade no ataque.

O executivo defende que lucrar com vendas futuras de jogadores não é o principal objetivo, mas sim conseguir ganhos com a valorização da marca por meio do desempenho esportivo.

O perfil de contratações era uma questão que criava atrito com os dirigentes austríacos. A reclamação deles era que os brasileiros insistiam na contratação de veteranos que pudessem dar resultados imediatos, em vez de apostar nos jovens.

Principal atacante do RB Leipzig (ALE) e integrante da seleção alemã, Timo Werner, 23, está no clube desde 2016, quando chegou do Stuttgart (ALE), e o time tem resistido às tentativas de rivais do continente para comprá-lo.

O Salzburg vendeu o atacante revelação norueguês Erling Braut Haaland, 19, para o Borussia Dortmund (ALE) porque seu agente, Mino Raiola, fez muita força. E também porque é mais difícil segurar um jogador na liga austríaca do que na alemã.

Para o início do Campeonato Paulista de 2020, quando pretende colocar em prática o projeto de ser a quinta força do futebol estadual, o Red Bull Bragantino já contratou o atacante Alerrandro, 19, que estava no Atlético-MG, o zagueiro Leo Realpe, 18, do Independiente del Valle (EQU), o atacante Artur, 21, o lateral Luan Cândido (ambos ex-Palmeiras), e o meia Thonny Anderson, 22, que estava no Grêmio.

O investimento em atletas até agora para a temporada está em cerca de R$ 50 milhões.

Artur se encaixa em um dos perfis mais procurados pelas equipes da Red Bull: atletas que não deram certo nos grandes times, mas com potencial para render na sua filosofia de jogo.

A expectativa é que a folha salarial no Estadual seja parecida com a da Série B no ano passado, cerca de R$ 2 milhões mensais. Isso sem contar com o elenco B, composto apenas por jogadores com menos de 23 anos, que vai disputar a Série A2 do Paulista com o nome de Red Bull Brasil.

A multinacional criou essa equipe em Campinas, no ano de 2007. Teve relativo sucesso no Paulista (chegou às quartas de final no ano passado), mas fracassou nos torneios nacionais, o que irritou a matriz.

Alguns dirigentes chegaram a reivindicar o fechamento do projeto, mas outra solução apareceu. Por cerca de R$ 50 milhões, a companhia comprou o Bragantino, que já estava na Série B do Brasileiro e a um passo da elite.

Além de conseguir o acesso e o título com antecipação, a Red Bull ainda mudou seu principal projeto para uma cidade em que pode ter torcida favorável. Isso não acontecia em Campinas, por causa da concorrência de Ponte Preta e Guarani.

"Qual o propósito de estar na Série B e chegar à Série A e não gerar paixão nas pessoas ou ter uma cidade em torno do time?", questiona Tiago Scuro.