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Rival do PSG, City gastou muito até mostrar defesa sólida na Champions

Bruno Rodrigues (Folhapress)

Mentor de Pep Guardiola, o holandês Johan Cruyff (1947-2016) disse certa vez que nunca viu um saco de dinheiro fazer um gol. Era uma metáfora sobre a possibilidade de times mais pobres vencerem os mais ricos. No caso de Guardiola à frente do Manchester City (ING), a frase, se adaptada para uma ótica defensiva, poderia resumir, em parte, as tentativas do treinador de encontrar os defensores ideais e evitar que marquem gols na sua equipe.

Desde que chegou ao clube, em 2016, o técnico catalão gastou sacos e mais sacos de dinheiro na contratação de atletas de defesa. Um investimento que superou os 500 milhões de euros (R$ 3,2 bilhões na cotação atual) para reforçar a retaguarda. Mas só agora, após quatro temporadas, o time parece ter atingido a solidez tão buscada pelo técnico.

Dono da melhor defesa da Champions League, o City recebe nesta terça-feira (4) o Paris Saint-Germain (FRA), na Inglaterra, pelo jogo de volta da semifinal da Champions League. Na partida de ida, os ingleses venceram por 2 a 1, em Paris. Se a sua equipe não for vazada, Guardiola garantirá uma vaga na decisão europeia, feito inédito na história do clube azul de Manchester. Além da boa vantagem, há a confiança -também inédita- no sistema defensivo do time comandado por Pep, que colaborou para a ótima campanha até aqui no torneio. Em toda a atual disputa da Champions, o Manchester City sofreu apenas quatro gols. O desempenho não é elogiável apenas ao olhar para esta edição, mas considerando principalmente as anteriores com o técnico.

De 2016 para cá, basta contabilizar os gols sofridos nos mata-matas da competição europeia para se ter uma ideia da melhora defensiva: 6 em 2016/2017 (parou nas oitavas de final); 7 em 2017/2018 (parou nas quartas); 6 em 2018/2019 (parou nas quartas); e 5 em 2019/2020 (parou mais uma vez nas quartas). Há um nome que se destaca como o líder da defesa do Manchester City. Não à toa foi a contratação mais cara de Pep Guardiola no clube: Rúben Dias, que custou 68 milhões de euros e chegou a Manchester em setembro do ano passado. O zagueiro português não somente tem atuado em alto nível como também melhorou o rendimento de seus companheiros da linha de trás.

Titulares ao lado de Dias, o zagueiro John Stones e os laterais Kyle Walker (direito) e João Cancelo (esquerdo) foram outros que chegaram a pedido de Pep. Todos contratados por valores acima dos 50 milhões de euros. "No último verão, contratar um zagueiro era a máxima prioridade para o clube. Chegou Rúben Dias do Benfica (POR), que se tornou peça chave", afirma o jornalista espanhol Pol Ballus, que cobriu in loco todas as temporadas de Guardiola na Inglaterra e é autor de um livro sobre o trabalho do técnico no país. "Com Dias, John Stones mudou de mentalidade, ele que não teve uma boa temporada passada por não estar muito focado no futebol. Criou uma boa química com Rúben, formam uma dupla que se entende muito bem. A melhora defensiva do Manchester City é clara."

Alcançar essa segurança não é algo a ser resolvido somente com a contratação de jogadores para a defesa. Todo o sistema precisa colaborar para que o time ofereça menos oportunidades ao adversário e corra menos riscos atrás, especialmente em propostas ofensivas, como a de Guardiola no City.

No jogo de ida da semifinal, os ingleses sofreram com algumas descidas do Paris Saint-Germain nos primeiros 30 minutos de partida. Os franceses, voltados para o contra-ataque e para a velocidade de Neymar e Mbappé, jogaram confortavelmente e abriram o placar, com Marquinhos. Mbappé, que passou em branco em Paris, é dúvida para o jogo desta terça em razão de uma lesão na panturrilha direita. Com a mudança de Guardiola no intervalo, liberando João Cancelo para atacar pela esquerda e trazendo Gündogan -que vem atuando como falso nove- para uma posição de volante organizador, o City ganhou a luta pelo espaço (e o jogo).

Em vez de colocar o time todo para frente de forma desenfreada, ocupou o campo adversário, dominando a posse de bola ao mesmo tempo que não ofereceu os contra-ataques ao rival. "Kun Agüero se lesionou muito nesta temporada, Gabriel Jesus não jogou tantas partidas. Pep gosta do recurso do falso nove, e ele apostou por um tipo de jogador que não perde a bola. Que passa, passa, e através das combinações sustenta a equipe. O fato de ter tantos jogadores que não perdem a bola também agregou muito à parte defensiva. O time está melhor colocado, os passes são trocados com um sentido, uma estrutura, o time sai de trás com ordem. Isso também os prepara melhor para frear contra-ataques, as tentativas dos rivais", completa Pol Ballus.

Mais do que os gastos com defensores, que nem sempre surtiram o efeito desejado, o equilíbrio defensivo e o domínio dos espaços explica a solidez que coloca o Manchester City a um passo da final em Istambul. Este último, de preferência, sem sofrer gols.

 

 

 

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