Por:

Grupo de 16 jovens brasileiros irá à COP26 para debater crise climática

Para Daniel Holanda, os efeitos das mudanças climáticas são bem visíveis. Morador de Anápolis (GO), na região do cerrado, o jovem de 19 anos se impressiona com a forma como o céu fica bastante escuro na época da seca, o calor é extremo e falta água, a despeito de o bioma ser considerado o "berço das águas".

"Até o mês passado não caiu nenhuma gota de água do céu desde o início do ano, e toda hora recebo pelo celular notificação da Defesa Civil alertando sobre fenômenos climáticos na minha região", diz.

O estudante de direito e relações internacionais é um dos 16 jovens da delegação brasileira do Fridays for Future Brasil, grupo de jovens liderado pela ativista sueca Greta Thunberg, que vão a Glasgow, na Escócia, participar da COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece de 31 de outubro a 12 de novembro. Principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas, o evento é visto por muitos como a última oportunidade para que a humanidade evite um aquecimento global com consequências catastróficas.

Com idades entre 18 e 25 anos, o grupo conta com representantes das cinco regiões e dos seis biomas brasileiros, entre eles dois representantes indígenas das etnias sateré-mawé e guarani.

O fato de não ter de roupas de frio para o gélido clima escocês, onde vai enfrentar uma variação de temperatura de mais de 30 graus em relação à cidade onde vive, é o menor dos problemas para o jovem que ganhou interesse pela pauta socioambiental após participar, em 2019, em Nova York, da Assembleia Geral da Juventude, conferência global promovida pela
ONU.

"Temos que correr atrás e nos sacrificar para alcançar espaços que nenhum outro jovem ocupou, sem ajuda de governo, jornais e dos adultos. Precisamos unir a juventude para garantir a nossa existência daqui a dez anos, pois pode ser que a maioria das pessoas que estão em posição de liderança, que são geralmente mais velhas, não se preocupe com o futuro, já que não irá presenciar as consequências que suas decisões geraram, mas nós jovens vamos sofrer por algo que não é nossa culpa. Estamos falando do nosso futuro", diz Holanda.

Com 180 participantes ativos no Brasil, o Fridays for Future realizou uma "vaquinha" para arrecadar fundos para a viagem, mas grande parte do financiamento veio de ONGs parceiras.  A filial brasileira vai participar de uma série de eventos durante a COP26, principalmente de webinários na chamada Green Zone –área oficial da conferência dedicada para discussões e eventos paralelos–, onde terá um painel próprio, além de liderar uma manifestação marcada para o dia 5 de novembro.

"Nossa reivindicação é que os governantes tratem a crise climática como realmente uma crise e cumpram com o que prometeram e assinaram", diz Daniel.

Sediada no Centro de Ciências de Glasgow, a Green Zone deve reunir jovens, líderes indígenas, empresas e comunidades e abrigar apresentações culturais, exposições, palestras, exibições de filmes e demonstrações técnicas para o público em geral.

A delegação global do Fridays for Future será de 123 pessoas em Glasgow. Depois de anunciar que não participaria do evento por causa da falta de vacinação para todos os participantes, a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, hoje com 18 anos, mudou de ideia e confirmou presença, mas declarou que espera se decepcionar mais uma vez com o discurso vazio e a falta de ação dos líderes mundiais.

"Minha expectativa é que ouviremos muitos, muitos discursos agradáveis, ouviremos muitas promessas que, se você realmente olhar os detalhes, são mais ou menos sem sentido, mas eles apenas os dizem para ter algo a dizer, para a mídia ter algo para relatar. As COPs como estão agora não levarão a nada, a menos que haja uma pressão grande e em massa", diz

Greta, que se mostrou surpresa diante da ideia de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ou qualquer líder mundial, possa querer se reunir com ela durante a conferência.
"Acho que vai depender da situação. Não vejo razão para essas pessoas quererem se encontrar comigo, mas estou aberta a essa possibilidade, se for convidada", afirmou a ativista.

Em apenas três anos -desde que, aos 15, começou a faltar à escola às sextas-feiras para protestar, sozinha, segurando um cartaz onde se lia "greve escolar pelo clima" diante do parlamento sueco– Thunberg se tornou uma celebridade global. Depois de um ano fora da escola promovendo sua causa em tempo integral, voltou a estudar e está matriculada no segundo ano do ensino médio.

Chamada de "pirralha" pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a ativista chamou de "vergonhosa" a ação do governo brasileiro em relação à Amazônia e aos povos indígenas, e declarou ainda que o atual mandatário do país "fracassou" no combate à pandemia e à mudança climática.

Em julho, Greta doou 100 mil euros para o Fridays for Future Brasil, para a campanha SOS Amazônia, criada com o objetivo de ajudar comunidades indígenas e ribeirinhas do território amazônico no combate à Covid-19. O recurso é parte da premiação de 1 milhão de euros que ela recebeu pelo Prêmio Gulbenkian para a Humanidade, concedido pela Fundação Calouste Gulbenkian, com sede em Portugal.

Na sexta-feira de 24 de setembro, o Fridays For Future realizou a primeira greve mundial de jovens pelo clima desde o início da pandemia. Os protestos ocorreram em mais de 1.400 locais em todo o mundo e levaram 1,5 milhão de pessoas às ruas, segundo o grupo, que em 16 de outubro promoveu também um festival de música, o Climate Live, que reuniu jovens de 20 países.

Além das apresentações musicais, que no Brasil envolveram artistas como Elza Soares, Maria Gadú e Marcelo Jeneci, o público foi convidado a assinar uma petição que será entregue às autoridades que participarão do encontro na Escócia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.