Jornalistas abandonam entrevista sobre o brexit após governo britânico barrar veículos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um grupo de jornalistas decidiu não participar de uma entrevista coletiva convocada pelo governo britânico sobre o brexit após assessores do premiê Boris Johnson barrarem a participação de alguns veículos no evento.

O caso aconteceu nesta segunda-feira (3) dentro da residência oficial do primeiro-ministro, a casa número 10 da Downing Street, em Londres. 

Segundo a imprensa local, o governo de Boris convocou jornalistas de diferentes publicações para participarem de uma entrevista técnica que divulgaria detalhes da proposta de acordo comercial que Londres pretende apresentar para a União Europeia. 

Apesar de ter deixado o bloco oficialmente na última sexta (31), o Reino Unido ainda tem uma série de questões que precisam ser resolvidas com Bruxelas (sede da burocracia da UE) até o final do ano -quando acaba o período de transição do brexit.

A negociação do acordo comercial é considerada o principal assunto ainda ser definido nesse período e o premiê vem indicando que vai sugerir aos europeus que a relação entre os dois deveria ser semelhante a que o bloco mantém com o Canadá. 

A reunião desta segunda deveria detalhar exatamente como seria essa proposta britânica. 

Para isso, o governo convidou jornalistas para a entrevista na residência oficial.  

Ao chegarem, porém, os profissionais foram divididos em dois grupos de acordo com os veículos para os quais trabalham.  

O diretor de comunicação de Boris, Lee Cain, informou então os repórteres que estavam de um dos lados que eles deveriam deixar o local e não poderiam participar da reunião. 

Entre os veículos excluídos estavam os sites Huffington Post e PoliticsHome, os jornais The Mirror, The Independent e inews e a agência de notícias Press Association, entre outros.  

Em resposta, os jornalistas de veículos que tinham sido autorizados a participar da entrevista -incluindo BBC, The Guardian, Financial Times, The Telegraph, Daily Mail e The Sun- também deixaram o local. 

Após a divulgação do caso, o governo britânico afirmou que realiza duas vezes ao dia eventos abertos para todos os jornalistas, mas que tem o direito de restringir a entrada no caso de eventos específicos.  

Desde que assumiu o comando do país em julho, Boris e sua equipe aumentaram o uso desse mecanismo que restringe a entrada de alguns veículos.

De acordo com o Guardian, representantes do governo afirmaram nesta segunda que essa foi a primeira vez que os jornalistas convidados para essas reuniões fechadas reclamaram desse mecanismo. 

Uma das críticas dos jornalistas que deixaram a entrevista era que ela iria ser conduzida por profissionais da área técnica do governo e não por representantes da área política.

Segundo a imprensa britânica, a tradição é que a restrição de entrada só aconteça em casos de eventos de natureza política.