Morre o historiador Jonathan Spence, autor de 'Em Busca da China Moderna'

Morreu no último sábado (25) o historiador anglo-americano Jonathan Spence, tido como uma das maiores autoridades no estudo da China e autor do clássico "Em Busca da China Moderna", entre outros.

Aposentado desde 2008 da Universidade de Yale, onde trabalhou durante a maior parte da vida, Spence morreu aos 85 anos em West Haven, no estado americano de Connecticut, por complicações do mal de Parkinson.

Autor de dezenas de livros sobre a China, Spence se fez conhecido no mundo por "Em Busca da China Moderna", publicado no Brasil pela Companhia das Letras com 960 páginas e hoje fora de catálogo.

O livro cobre a história do gigante asiático do século 17 até o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989 –passando de forma detalhada pela ascensão e queda das duas últimas dinastias do país, Ming e Qing, o domínio por potências estrangeiras, a queda do império em 1911, a guerra civil, a Revolução Comunista, a Revolução Cultural e o início das reformas capitalistas no fim dos anos 1970.

Além disso, Spence escreveu ainda "O Palácio da Memória de Matteo Ricci" (Companhia das Letras), sobre um jesuíta italiano que viveu na China e na Índia no século 16. Em "O Filho Chinês de Deus", publicado no Brasil pela mesma editora, conta a história da rebelião dos Taiping, quando um líder chinês no século 19 se proclamou filho de Deus, criou um governo autônomo no interior do país e reuniu um exército de 2 milhões de soldados –estima-se que o conflito com o governo central tenha deixado mais de 20 milhões de mortos. Os dois livros também estão esgotados.

Spence deu três grandes entrevistas para a Folha desde o começo deste século. Em 2001, ele já analisava as tensões diplomáticas entre China e Estados Unidos. Em 2003, dissertou sobre as dificuldades que a China teria para se tornar a maior potência deste século. Na última, em 2005, falou sobre o inédito processo de internacionalização do país e já comentava sobre as possibilidades de uma invasão a Taiwan.

"É a maior área territorial que a China perdeu e não conseguiu de volta desde que os japoneses tomaram Taiwan, no século 19. Desde então, a ilha tem estado separada da China continental. A identidade de Taiwan é um problema intrincado no direito e na política internacionais. Nesse sentido, acho que eles querem muito Taiwan de volta. Eles queriam a região nordeste [Manchúria] de volta e conseguiram. Eles queriam a Mongólia, mas perderam por causa da ex-União Soviética. Eles queriam o Tibete e conseguiram, eles queriam Xinjiang e conseguiram. Taiwan é uma área enorme que era controlada pelo governo central e agora não o é. Há um gigantesco debate", disse.

A morte foi lamentada por pesquisadores de todo o mundo. "Jonathan Spence, grande sinólogo e estudioso dos jesuítas na China, historiador que escrevia muito bem, se foi ontem", escreveu o historiador Luiz Felipe de Alencastro. Joanne Freeman, também professora de Yale, chamou o colega de "um historiador e escritor incrivelmente criativo –e também de bom coração."