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Tanques russos fazem exercício de tiro real antes de reunião na Otan sobre Ucrânia

Por: Igor Gielow

Um dia após conversas largamente infrutíferas com os Estados Unidos e na véspera de uma rara reunião com a Otan para discutir a situação na Ucrânia, a Rússia iniciou um exercício militar com munição real perto da fronteira com o atribulado vizinho.

A manobra militar inclui, segundo a agência russa Interfax, 3.000 soldados, tanques T-72B3, blindados de transporte BMP-2 e peças de artilharia em regiões próximas da Ucrânia, como Rostov, e perto de Belarus. Exatamente o tipo de armamento que seria usado em uma invasão da Ucrânia, cujo temor é objeto de intensa movimentação diplomática.

O exercício destaca pessoal e equipamento envolvidos na grande movimentação de 100 mil homens feita por Vladimir Putin a partir de novembro, que gerou a acusação ocidental de que ele preparava um ataque para apoiar rebeldes pró-Rússia no Donbass (leste ucraniano).

Banal em outros tempos, o exercício foi desenhado para colocar pressão sobre o Ocidente. Na segunda (10), representantes russos e americanos passaram sete horas reunidos para debater o caso da Ucrânia e outras questões de segurança europeia em Genebra.

Nas conversas, os EUA deixaram claro que não aceitam o ultimato de Putin para retirar forças da Otan de países-membros que aderiram depois de 1997, ou seja, voltar às fronteiras do tempo da Guerra Fria, sem incluir nações que faziam parte da esfera soviética.

Também foi recusada a ideia de barrar novas adesões, nominalmente de países como a Ucrânia, Geórgia e Moldova, que faziam parte da União Soviética (1922-1991) e que para o Kremlin ficar satisfeito estrategicamente têm de ao menos ser neutras, quando.

Uma porta de conversa se manteve aberta com questões envolvendo posicionamento de mísseis de alcance intermediário e acerca de clarificação sobre a natureza de exercícios militares de lado a lado.

Nesta quarta (12), outra delegação russa vai a Bruxelas para se encontrar com a cúpula da Otan, aliança militar de 30 países liderada pelos EUA. Não se espera um avanço bombástico, mas o fato de que hoje os contatos diplomáticos entre o bloco e Moscou estão cortados já faz a reunião ser um fato positivo em si.

O encontro ocorrerá no âmbito do chamado Conselho Otan-Rússia, que não se reúne desde 2019.

Na segunda, os russos repetiram o que Putin já dissera, que não pretende invadir. Na prática, seria uma empreitada bastante difícil, diferente da anexação de uma área majoritariamente russa, como o presidente promoveu na Crimeia em 2014.

Naquele ano, temendo que o novo governo ucraniano aderisse à estrutura militar ocidental, Putin promoveu não só a absorção da península, mas fomentou a guerra civil que na prática separou dois pedaços do leste ucraniano do controle de Kiev.

Com os exercícios, o Kremlin dá um sinal de prontidão enquanto as conversas ocorrem. Seu porta-voz, Dmitri Peskov, afirmou nesta terça que "não há razão para otimismo" na rodada diplomática, adicionando um tom sombrio.

Putin saboreia uma vitória estratégica na Ásia Central, onde ajudou o autocrata do Cazaquistão a reprimir uma grave revolta na semana passada com o envio de tropas de sua própria aliança militar, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva.

Sentido a pressão, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou nesta quarta que agradece tanto a russos quanto a americanos pelos esforços, e que "é hora de concordar sobre um fim para o conflito". Ele conclamou a volta do chamado formato Normandia de negociações, sentando à mesa com Putin, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o novo premiê alemão, Olaf Scholz.

"Nós estamos preparados para tomar as decisões necessárias numa cúpula com os líderes dos quatro países", afirmou. Não houve resposta do lado russo, que está à espera das negativas que o Ocidente lhe dará nesta semana para propor o próximo passo –que deverá ser tentar extrair concessões de Kiev bancado por suas tropas.

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