Bebê da Venezuela morre baleado em barco de migrantes em Trinidad e Tobago

Um bebê venezuelano de um ano morreu nos braços de sua mãe durante uma operação da Guarda Costeira de Trinidad e Tobago para interceptar um barco com migrantes sem documentos que partiu da Venezuela, confirmaram as autoridades do país caribenho neste domingo (6).

A ação ocorreu à meia-noite de sábado (5) no horário local, 23h em Brasília, quando os agentes detectaram uma embarcação que cruzou a fronteira marítima entre Trinidad e Tobago e a Venezuela. Como o barco se recusou a parar, a Guarda Costeira começou a realizar "disparos de advertência" em sua defesa, segundo as autoridades.

Os agentes alegaram temer pela vida dos tripulantes diante de um ataque que dizem ter sofrido do navio onde os migrantes viajavam, sem especificar qual teria sido a investida.

"Foram utilizados todos os métodos disponíveis, incluindo o uso de megafone, refletor e sinalizadores, para fazer com que a embarcação suspeita parasse" disse a Guarda Costeira, em comunicado. "Ainda assim, continuou tentando fugir."

Quando o barco foi interceptado, os agentes viram os migrantes, que estavam escondidos. "Descobriu-se uma migrante adulta que estava com um bebê, que falou que ele estava sangrando", afirma o comunicado. Após ter seu quadro estabilizado, a mulher foi levada a um centro de saúde local, mas o bebê já não respondia ao atendimento de emergência. Não foi divulgado quantas pessoas estavam no barco.

O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Keith Rowley, disse ter falado com a número dois do regime venezuelano, Delcy Rodriguez, sobre o caso e esperar uma melhor cooperação entre as Guardas Costeiras dos países.

"Expressei minhas mais profundas condolências em meu nome e de todas as pessoas de Trinidad e Tobago com respeito a essa infeliz perda da vida do bebê", disse o líder do país caribenho, em comunicado.

A embarcação saiu na noite de sábado de Delta Amacuro, um estado venezuelano de maioria indígena. Calcula-se que saem dali entre de seis a dez barcos diariamente com migrantes fugindo da crise no país, afirmou à agência de notícias AFP o ativista de direitos humanos Orlando Moreno.

"Esse é um episódio que se via acontecendo porque eles disparam nos motores das embarcações para detê-las, e neste caso o protocolo saiu do controle", explicou Moreno, que esteve em contato com familiares do bebê.

As partidas clandestinas já deixaram ao menos uma centena de mortos e desaparecidos desde 2018, resultado de uma perigosa travessia em embarcações precárias, que transitam acima da capacidade máxima os 120 quilômetros que separam Trinidad e Tobago e Venezuela.

A ONU estima que mais de 5 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015 devido à aguda crise, sendo que cerca de 25 mil vivem em Trinidad e Tobago –mas o número pode chegar a 40 mil. Com população de 1,3 milhão de habitantes, o país caribenho diz ter registrado 16 mil venezuelanos.

As autoridades trinitário-tobagenses têm endurecido sua política de deportações para prevenir a entrada ilegal de pessoas, que são acusadas pelo governo de realizar assaltos contra a população local, usando crianças para isso.