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Helicóptero militar dos EUA faz 1º voo sem piloto e sem tripulação

Por: Patrícia Pamplona

O helicóptero militar UH-60A Black Hawk fez seu primeiro voo sem piloto a bordo no último sábado (5), na base de Fort Campbell, nos EUA. Foram 30 minutos no ar, com uma segunda decolagem realizada na segunda-feira (7).

Os voos fazem parte do programa Sistema Automação no Cockpit de Tarefa da Tripulação Aérea (Alias, na sigla inglês), desenvolvido pela Agência de Pesquisa Avançada de Projetos de Defesa (Darpa, também na sigla em inglês), dos EUA.

Segundo o site da agência, o Alias foi criado para desenvolver kits removíveis para promover altos níveis de automação em aeronaves que hoje exigem pilotos, permitindo operações seguras de tripulação reduzida. O objetivo é dar suporte na execução de "uma missão inteira, da decolagem ao pouso, mesmo diante de eventos de contingência como falhas dos sistemas da aeronave."

A tecnologia utilizada, Sikorsky Matrix, pode mudar a forma com que "aviadores executam suas missões ao fornecer assistência em voos com visibilidade limitada ou sem comunicação", diz o comunicado divulgado pela Darpa, o que permite ao sistema executar operações sem o comando humano.

Segundo Eduardo Mariutti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e do programa de pós-graduação em relações internacionais San Tiago Dantas, há duas principais implicações no uso desse tipo de tecnologia. A primeira é a economia de soldados, uma questão que existe desde a Guerra do Vietnã, quando a população americana se mostrou inconformada com as mortes em combate.

"Do ponto de vista militar, há maior propensão a ações arriscadas porque só vai perder material. Por mais caro que seja, não envolve perda de vida de pessoas altamente treinadas, em cenários de combates complexos", explica o especialista em sistemas complexos e teoria do caos.

O segundo ponto é uma questão ética que já é discutida no meio sobre "até que ponto uma máquina pode tomar decisões que vão colocar a vida de civis em risco", acrescenta. Esse tipo de dilema é tema frequente em debates sobre aplicações da inteligência artificial, ainda mais em contexto militar. A Darpa não menciona o conceito no comunicado, mas a tecnologia pioneira empregada no helicóptero fornece diferentes níveis de autonomia e automação para missões específicas.

O texto afirma que o Alias tem potencializado os avanços em sistemas de automação dos últimos 50 anos, destacando que mesmo as aeronaves mais automatizadas hoje exigem que os pilotos gerenciem interfaces complexas e lidem com situações inesperadas.

"Com o Alias, o Exército terá muito mais flexibilidade operacional", avalia Stuart Yang, gerente de Programa do Escritório de Tecnologia Tática da Darpa, em comunicado. "Isso inclui a habilidade de operar uma aeronave a toda hora do dia ou da noite, com ou sem pilotos e em uma variedade de condições difíceis, como ambientes visuais desafiadores, bloqueados e degradados."

A agência afirma que o Exército americano tem explorado o uso potencial de tecnologias como a do Alias. No próximo mês, o programa pretende conduzir o primeiro voo com o sistema em um UH-60M em Fort Eustis, na Virgínia.

Associado a ações americanas mundo afora, o Black Hawk ocupa um lugar no imaginário pop: a derrubada de um deles na Somália virou filme de Ridley Scott ("Black Hawk Down", "Falcão Negro em Perigo" na versão brasileira). Ele é usado por forças aéreas em 31 países, inclusive no Brasil.

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