Índia condena 38 muçulmanos a morte por atentados terroristas de 2008

Um tribunal na Índia condenou, nesta sexta-feira (18), 38 muçulmanos à pena de morte pelos atentados de julho de 2008, na cidade de Ahmedabad, no oeste do país. Na ocasião, 56 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas em uma série de explosões que atingiu a rede de transportes da região, além de áreas residenciais, mercados e hospitais -todas em um intervalo de pouco mais de meia hora.

Outras 11 pessoas foram sentenciadas pela Justiça à prisão perpétua. Os condenados fazem parte de um grupo autodenominado "Mujahideen Indiano", que há 14 anos assumiu a autoria dos ataques, definindo-os como um ato de vingança por conflitos religiosos de anos anteriores.

Na mesma época dos atentados, o grupo coordenou ataques terroristas e matou dezenas de pessoas em Nova Déli e na cidade turística de Jaipur, no norte do país. Ainda em 2008, 166 pessoas morreram em um atentado coordenado de homens armados com explosivos em hotéis e outros locais de Mumbai, um ataque que as autoridades atribuíram a militantes paquistaneses.

Os 49 réus já haviam sido condenados pelo tribunal no início do mês, mas as sentenças não haviam sido divulgadas. Cerca de 80 pessoas foram acusadas pelos atentados, mas 28 foram absolvidas, segundo o promotor do caso, Amit Patel.

Antes do veredicto, a promotoria havia se manifestado favorável à pena de morte dos acusados, descrevendo os ataques como "um caso raro" no qual vidas inocentes foram perdidas. A defesa dos réus, por outro lado, pedira sentenças mais brandas, "uma vez que eles já passaram mais de 13 anos na prisão" -os advogados devem recorrer da decisão.

A pena de morte não é rara na Índia. De acordo com dados do Project 39A, uma organização que busca igualdade judicial no país, 488 prisioneiros estavam no corredor da morte em 31 de dezembro de 2021. No ano passado, porém, ainda segundo o levantamento, a Suprema Corte indiana não confirmou nenhuma sentença de morte e absolveu quatro pessoas.

O julgamento dos terroristas durou mais de uma década. Mais de 1.100 testemunhas foram ouvidas e vários atrasos foram registrados no processo. Além disso, durante o período, a polícia evitou mais de dez tentativas de fuga dos acusados. Eles teriam utilizado pratos de comida para cavar túneis em suas celas.
Ahmedabad foi há 20 anos o epicentro de conflitos religiosos na Índia, quando quase mil pessoas, a maioria muçulmanas, morreram na época. A cidade fica localizada em Gujarat, mesma região onde nasceu Mahatma Gandhi, líder do movimento de independência contra o domínio britânico na Índia. O estado também é onde nasceu o atual primeiro-ministro do país, Narendra Modi, acusado de adotar políticas hostis a muçulmanos.

Na época dos atentados, Modi era ministro-chefe de Gujarat, estado que governou entre 2001 e 2014, quando assumiu seu atual cargo. Em 2002, ele foi acusado de não proteger os muçulmanos durante os conflitos com os hindus na região. Cerca de 14% da população indiana é muçulmana. São 200 milhões, o que leva o país a ter a segunda maior população islâmica do mundo, atrás apenas da Indonésia.

Mais recentemente, em fevereiro de 2020, hindus e muçulmanos entraram em conflito em Nova Déli, deixando um rastro de destruição na capital da Índia e dezenas de mortos, segundo os serviços de saúde locais. Duas mesquitas foram queimadas na cidade e cerca de 200 pessoas ficaram feridas, em uma das maiores ondas de violência religiosa a atingir a capital em mais de três décadas.