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Bateria antiaérea prometida por Biden pode ser o novo MiG-29 da guerra na Ucrânia

Por: Igor Gielow 

Em seu pacote adicional de US$ 800 milhões em ajuda à Ucrânia, o presidente Joe Biden prometeu entregar ao país baterias antiaéreas de longa distância, conforme lhe havia pedido o colega Volodimir Zelenski.

O americano foi esperto ao não citar modelos, porque a promessa corre o risco de repetir a novela dos MiG-29 que a Otan (aliança militar do Ocidente) iria entregar para ajudar a defesa de Kiev contra a invasão russa, só para desistir ante a impraticabilidade do arranjo.

Se quisesse entregar um modelo em uso pela aliança, teria de enviar também os operadores: a Ucrânia só tem no seu acervo baterias soviéticas. Isso configuraria tropas ocidentais no solo e, na lógica de Moscou, um envolvimento direto na guerra.

Os países ocidentais dizem ter entregado mais de 20 mil mísseis antitanque e antiaéreos, ambos lançados de forma portátil e de fácil manuseio. Ainda que na prática estejam matando russos, até aqui têm sido tolerados pelo Kremlin e não usados como "casus belli" para um conflito com a Otan.

Resta então buscar nos inventários dos membros que faziam parte do Pacto de Varsóvia (a aliança militar comandada pela União Soviética) e hoje são da Otan os tais sistemas de mísseis. O candidato é o S-300, modelo em uso em inúmeros países, com diversos graus de modernização.

Isso porque a Ucrânia tinha, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, "alguns" S-300 mais antigos antes da guerra. A Rússia, sem apresentar provas, afirmou já ter destruído a maioria deles. São armas poderosas, que atingem alvos a até 250 km, a depender do míssil usado.

Eles existem marginalmente em dois membros da Otan: na Eslováquia (um único lançador) e na Bulgária (duas baterias somando 10 lançadores). A Rússia usa o modelo, assim como seus irmãos mais modernos, o S-400 e o S-500. Membro da aliança ocidental, a Turquia comprou S-400 russos e foi punida pelos EUA por isso, mas não há hipótese em que Ancara fará tal doação a Kiev, até porque necessitaria enviar soldados para operá-lo.

Quando a guerra estourou, no fim de fevereiro, União Europeia e Otan prometeram facilitar a entrega de caças para repor o estoque da Força Aérea da Ucrânia. A estratégia provou-se errada, pela impossibilidade de fazer entrar material com esse grau de sofisticação sem atrair a ira e provavelmente mísseis russos a comboios, caso o avião viesse desmontado, ou, pior, ao aparelho no ar.

A Polônia insistiu, sugerindo transferir a sua frota de 28 MiG-29 russos, modelo que Kiev usa, mas foi barrada pelos Estados Unidos e outros membros da Otan por motivos de Terceira Guerra Mundial potencial.

Zelenski seguiu seu pedido diuturno para que a Otan faça uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. É algo perigoso, pela evidente declaração de guerra que seria feita a Moscou, e algo inútil: mísseis de cruzeiro são lançados de navios e aviões longe do território ucraniano, e o grosso do estrago tem sido feito com mísseis balísticos, foguetes e obuses de artilharia.

Mesmo que houvesse defesa aérea mais eficaz, nada sugere que impediria os danos a essa altura. Pode ser quer os ocidentais agora achem uma saída criativa para o problema, mas parece que os S-300 têm tudo para ser os novos MiG-29 na história deste conflito.

Mais úteis parecem ser a munição, os já mencionados mísseis e drones –embora ninguém espere modelos avançados de ataque como o Reaper no pacote.

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