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Frente ampla que lidera Israel perde maioria no Parlamento e vive crise interna

A inédita coalizão de oito partidos que elegeu o ultradireitista Naftali Bennett como premiê de Israel há pouco menos de um ano e vinha, até aqui, mostrando-se exitosa, enfrenta nesta quarta (6) aquela que se desenha como sua principal crise política. A frente ampla perdeu a maioria que possuía no Knesset, Parlamento do país.

A crise foi instaurada após a parlamentar Idit Silman, líder da coalizão governista, abandoná-la. Sem ela, a aliança fica com 60 cadeiras no Legislativo -uma a menos que o necessário para ter maioria no Parlamento de 120 cadeiras-, o que complica a governabilidade da frente ampla que reúne siglas de direita e de esquerda.

À mídia local, parlamentares governistas alegaram terem sido pegos de surpresa pela debandada. A parlamentar de 41 anos é membro do Yamina, o partido de ultradireita ao qual também pertence Bennett. Mas o anúncio não chegou a propriamente surpreender analistas.

Há semanas Silman vem apresentando divergências públicas com outros membros do partido, em especial com aqueles de esquerda. Na carta que apresentou ao premiê, e que foi vazada à imprensa, ela acusa o governo de minar o caráter judaico do Estado de Israel.

Silman referia-se a um atrito público que teve nos últimos dias com o ministro da Saúde Nitzan Horowitz, do esquerdista Meretz. Ele havia instado hospitais do país a respeitarem uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça de Israel segundo a qual os estabelecimentos de saúde não podem impedir pacientes de levar produtos fermentadas durante a celebração da Páscoa judaica -judeus praticantes de abstém de ingerir alimentos do tipo na data.

A decisão da alta corte foi dada sob a justificativa de interromper uma política possivelmente discriminatória para os que não são judeus ou não praticam a religião. Mas Silman argumentou que, ao apoiá-la, o ministro estava "cruzando uma linha vermelha".

"O que me incomodou foi que o ministro, que deveria lidar com a saúde, agora está tratando de questões de religião e de Estado", ela disse.

E acrescentou que a prática corriqueira de hospitais não permitirem os produtos fermentados na Páscoa tem em sua natureza "a tradição, não a religião".

O episódio pode ser o que justifica sua saída da coalizão, mas analistas têm dito que na verdade foi apenas uma justificativa de fachada da parlamentar para agradar a base política do Yamina e a oposição, insatisfeitas com as alianças feitas com a esquerda e com a demora para construir mais casas para colonos judeus na região da Cisjordânia.

O ex-premiê Binyamin Netanyahu, político que por mais tempo ficou no cargo no país -12 anos-, parabenizou Silman por sua decisão e a agradeceu "em nome de muitas pessoas em Israel que esperaram por este momento".

Relatos colhidos pelo jornal Times of Israel apontam que a deputada planeja se juntar ao Likud, o partido de Netanyahu.

Ainda na carta de saída, Silman disse que agora vai trabalhar para formar um novo governo de direita em Israel, indicando que buscará fazer com que mais colegas da coalizão também deixem a aliança. "Sei que não sou a única que se sente assim", completou a deputada.

Todas as opções postas na mesa poderiam dificultar a sustentabilidade da coalizão governista. A oposição, agora maioria, poderia, por exemplo, bloquear a aprovação do orçamento nacional, o que pode levar à queda do governo no próximo ano com a convocação de novas eleições legislativas.

Ou, então, poderia tentar aprovar a dissolução do Parlamento, o que exigiria que todas as siglas da oposição, muitas das quais não são tão próximas a Netanyahu, votassem a favor, já que são necessários 61 votos no mínimo. O Likud tem somente 29 assentos no Legislativo.

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