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Número de mortos por inundações na África do Sul chega a quase 400

O número de mortes registradas na África do Sul após as fortes chuvas que atingiram o país no início da semana, provocando um cenário descrito por autoridades e especialistas como um dos piores da história do país, chega a 395, de acordo com balanço divulgado nesta sexta (15). Mais de 41 mil pessoas foram afetadas.

A maioria das vítimas pertencia à região de Durban, cidade portuária da província de KwaZulu-Natal que tem acesso ao oceano Índico. O acesso à energia elétrica e à água potável foi interrompido. O governo liberou um pacote inicial de 1 bilhão de rands (R$ 32 milhões) para ajudar a região, declarada como uma área de desastre.

Autoridades não forneceram informações sobre o número de desaparecidos, e equipes de resgate afirmam que, após cinco dias desde o início das chuvas, há pouca esperança de encontrar sobreviventes. "Agora nosso trabalho consiste principalmente em recuperar corpos", disse à agência AFP Travis Trower, um bombeiro local.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, descreveu a catástrofe como algo "nunca antes visto no país" e não demorou a associá-la à emergência climática. O país, em especial sua costa sudeste, tem se tornado mais vulnerável a tempestades e inundações devido ao aquecimento do Índico, uma tendência que, projetam os cientistas, deve piorar nas próximas décadas.

Mas especialistas também salientam que outro fator ajuda a intensificar os efeitos da crise do clima: a falta de planejamento urbano. Mais de 25% da população sul-africana vive em assentamentos informais, de acordo com dados do Banco Mundial de 2018.

"São casas construídas onde as pessoas encontram espaços abertos próximos a oportunidades econômicas; carecem de comodidades básicas e infraestrutura, como estradas adequadas e sistemas de drenagem", descreve Hope Magidimisha-Chipungu, professora da Universidade de KwaZulu-Natal, em artigo recente na revista The Conversation.

"Isso deixa os moradores mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, como as inundações."

Em 2020, a cidade de Durban lançou um plano de ação climática, que delineia estratégias para tornar a energia verde, reduzir o risco de inundações, melhorar a gestão de resíduos e conservar a água, com o objetivo de se tornar um município neutro em carbono até 2050.

Embora ativistas climáticos reconhecessem que o plano era progressivo, eles já sinalizavam que havia poucas evidências de que os dispositivos estavam, de fato, sendo implementados.

O país está em estado de alerta, uma vez que previsões meteorológicas apontam para tempestade e risco de novas inundações no fim de semana da Páscoa, em especial nas províncias de Estado Livre e Cabo Oriental.

O índice pluviométrico atingido no último fim de semana foi o maior em pelo menos seis décadas no país. Mais de 250 escolas foram afetadas, algumas parcialmente destruídas, e autoridades locais anunciaram a abertura de cerca de 20 abrigos de emergência para atender a pouco mais de 2.000 pessoas.

Muitos moradores foram vistos nesta sexta limpando orlas de praias locais. Na popular praia de Umhlanga, o cientista da computação Morne Mustard, 35, ajudava a recolher troncos, folhas e outros detritos. Ele sobreviveu às inundações, que descreveu como cenas de "devastação absoluta e horrorosa" à AFP.

O ministro das Finanças sul-africano, Enoch Godongwana, disse à emissora local Newsroom Afrika que, por ora, o dano acumulado é estimado em bilhões de rands. "Ainda estamos no estágio de ajuda emergencial; a segunda fase será a de recuperação e reparo", ele disse.

Christopher Trisos, principal autor do mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU (IPCC, na sigla em inglês) sobre África, descreve o momento atual como de aprendizado. "O relatório descobriu que 90% das cidades africanas ainda não têm planos consistentes de adaptação ao clima, o que é extremamente preocupante", afirmou o cientista da Cidade do Cabo à Fundação Thomson Reuters. "Mas ainda há oportunidades de adaptação."

A África do Sul é o país onde foi registrada a inundação que mais danos econômicos deixou no continente africano nos últimos 50 anos. Em 1987, um evento extremo do tipo relegou mais de US$ 1,72 bilhão (R$ 8 bilhões) de perdas econômicas, segundo dados compilados por um recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço das Nações Unidas para o clima.

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