Boris Johnson se desculpa no Parlamento após multa por festa durante lockdown

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou a pedir desculpas ao Parlamento nesta terça-feira (19) por causa das festas realizadas em seu gabinete em períodos que restringiam encontros sociais. Foi a primeira declaração do tipo do premiê desde que foi divulgada uma multa que ele recebeu por infringir as medidas para conter a pandemia de Covid-19.

O discurso foi seguido de manifestações contrárias de políticos da oposição e do próprio Partido Conservador –ainda que os pedidos de renúncia tenham sido amenizados nas últimas semanas.

Boris iniciou o pronunciamento de desculpas mencionando seus esforços diplomáticos envolvendo a Guerra da Ucrânia. Minutos antes de falar os parlamentares, o primeiro-ministro havia conversado por telefone com líderes como Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha).

A menção à guerra pode ter sido estratégica, uma vez que as ações militares da Rússia estão entre as principais razões para que a pressão contra Boris tenha diminuído desde janeiro. A oposição acusou o premiê de tentar minimizar o escândalo.

Sobre as multas, o político disse que pagou a quantia imediatamente. "Assim que recebi a notificação, reconheci a mágoa e a raiva, e disse que as pessoas tinham o direito de esperar melhor de seu primeiro-ministro, e repito isso no Parlamento agora."

Segundo o jornal The Guardian, o valor provável da punição aplicada pode variar entre 20 e 50 libras (de R$ 120 a R$ 303). Além de Boris, foram multados a esposa do premiê, Claire, e o secretário de Finanças, Rishi Sunak. As punições integram as 50 já aplicadas pela polícia de Londres relacionadas às festas realizadas no gabinete e na residência do político.

Boris afirmou aos congressistas que respeitava a decisão das investigações -que ainda estão em andamento. "Não me ocorreu, na hora ou posteriormente, que uma reunião na sala do gabinete pouco antes de uma reunião vital sobre a Covid poderia significar uma violação das regras", disse. "Repito: esse foi meu erro e peço desculpas por isso sem reservas."

O premiê, porém, não citou o fato de que a reunião que desencadeou a multa era uma festa organizada por sua mulher para celebrar seu aniversário, em 10 de junho de 2020. Segundo o governo, o evento durou menos de dez minutos.

O líder da oposição, Keir Starmer, chamou o discurso de piada e disse que Boris fez um "pedido de desculpas de boca suja". Ele ainda ressaltou que a população "não acredita em uma palavra que o primeiro-ministro diz".

Segundo uma pesquisa do centro YouGov, 57% dos ingleses são a favor da renúncia do premiê e 75% acreditam que ele mentiu no episódio, conhecido como "partygate".

As críticas foram encorpadas também pelo ex-líder do Partido Conservador (sigla do premiê) Mark Harper. Em carta publicada no Twitter, ele disse que não acha mais que Boris "seja digno do cargo que ocupa". É a primeira vez que Harper menciona uma eventual renúncia do correligionário.

Outros membros do partido já haviam advertido previamente que não aceitariam que o premiê permanecesse no cargo se fosse considerado culpado de violar a lei. O anúncio das multas, então, trouxe de volta ao debate a possibilidade de os conservadores apresentarem uma moção de desconfiança. O mecanismo previsto no sistema parlamentar seria o primeiro passo para tirar Boris do cargo.

Para isso, é necessário que ao menos 54 dos 360 parlamentares da legenda enviem o pedido a um órgão do partido chamado Comitê de 1922.

O número dos que já enviaram essa carta é conhecido apenas pelo presidente do comitê.

Segundo o Guardian, a cifra chegou a girar em torno de 30, mas parte dos conservadores teria retirado o pedido com base no entendimento de que, em um cenário de guerra na Europa, não seria a hora de trocar a liderança do país.

No final do discurso desta terça, o premiê voltou a citar a guerra da Ucrânia e tratou a reação pública ao "partygate" como um estímulo para que ele "cumpra as prioridades do povo britânico" e "responda, nas melhores tradições do nosso país, ao ataque bárbaro de Putin contra a Ucrânia".