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Trump incentivou disparos contra pernas de ativistas, diz ex-secretário da Defesa

Era final de maio de 2020, e uma multidão estava em frente à Casa Branca, em Washington, em mais um dia de manifestações contra a violência das forças de segurança e o racismo nos EUA, motivadas pelo assassinato de George Floyd por um policial branco no estado de Minnesota.

No Salão Oval, o então presidente Donald Trump pergunta: "Vocês não podem simplesmente atirar neles? Só atirar na perna deles, algo assim?". O ouvinte era o secretário de Defesa, Mark Esper. As lembranças são do próprio Esper, que escreveu um livro sobre os bastidores do governo Trump.

O trecho de "A Sacred Oath" (um juramento sagrado) foi revelado nesta segunda (2), pelo site Axios.

Na época, policiais e manifestantes entraram em confronto diversas vezes, e, segundo contagem da agência de notícias Associated Press, mais de 10 mil pessoas foram presas.

A reação das forças de segurança foi considerada imprópria em várias ocasiões, com uso frequente de spray de pimenta e de balas de borracha, além de seguidos casos de agressões a manifestantes. No episódio em frente à Casa Branca, a Guarda Nacional usou gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral.

O movimento de raízes progressistas desagradou Trump, que no mesmo ano tentava se reeleger com bandeiras conservadoras. À época, o republicano chegou inclusive a ameaçar o envio do Exército para as ruas do país, como forma de retaliação aos manifestantes.

"Se uma cidade ou um estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então convocarei as Forças Armadas dos Estados Unidos e rapidamente resolverei o problema para eles", disse Trump em um discurso na Casa Branca. Para tal medida, ele teria de invocar uma lei de 1807, raramente utilizada, que permite usar tropas da ativa em solo americano.

Segundo o livro indica, se a decisão dependesse apenas do então presidente, assim ele teria feito. O republicano, porém, encontrou resistência dentro do próprio governo, e uma dessas pessoas teria sido Esper, conforme a versão que ele conta na obra. "Tive que descobrir uma forma de fazer Trump recuar sem criar a bagunça que eu estava tentando evitar", escreveu o ex-secretário de Defesa.

As ressalvas foram além dos bastidores, e ele, em junho, rechaçou publicamente a medida. Segundo o livro "Frankly, We Did Win This Election: The Inside Story of How Trump Lost" (francamente, ganhamos esta eleição: os bastidores da derrota de Trump), publicado em 2021 pelo repórter do Wall Street Journal Michael Bender, o movimento foi seguido também pelo então chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, que teria tido uma discussão com o republicano contra o uso das Forças Armadas.

O posicionamento custou caro a Esper: poucos dias após ser derrotado nas eleições, Trump o demitiu. A decisão, aponta a imprensa americana, fazia parte da estratégia de se cercar de pessoas leais e dispostas a confrontar a vitória do democrata Joe Biden.

O livro será lançado no dia 10. Os relatos contidos na obra, inclusive, foram alvos de um processo iniciado por Esper contra o Departamento de Estado, já sob a gestão Biden.

A legislação do país determina que ex-funcionários do governo têm de mostrar os originais ao Pentágono antes do lançamento de obras, devido a aspectos de segurança nacional.

O processo de revisão, porém, no ponto de vista do ex-secretário, foi demorado e conduzido de forma errônea, afetando, segundo ele, sua liberdade de expressão.

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